1942
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Quando a Praça XI foi anunciada como palco do carnaval de 1942, os protestos dos sambistas foram imediatos. Apesar da relação histórica entre a praça e o samba, a região estava quase totalmente destruída, pois a construção da Avenida Presidente Vargas entrara na reta final.
Na época, resistiam apenas as construções que se erguiam no lado externo das ruas Senador Eusébio e Visconde de Itaúna.
Os escombros e a poeira do local eram iminentes riscos para a integridade e a saúde dos sambistas. Flávio Costa, presidente da União Geral das Escolas de Samba (UGES), fez vários pedidos para que o desfile fosse transferido para outro local. Incorporaram-se à luta também vários cronistas, com matérias de protestos nos principais jornais da cidade. Contudo, nada foi capaz de convencer o prefeito Henrique Dodsworth, que manteve até o fim sua decisão inicial.
Ao mesmo tempo que pediam para não desfilarem na Praça XI por motivos de segurança e saúde, os sambistas nesse ano cantaram toda a saudade dos antigos carnavais da região, quando a antiga praça, reduto de tia Ciata e seus amigos, embalou os sonhos dos primeiros sambistas. As principais marchinhas e sambas do carnaval de 1942 retrataram justamente o passado da Praça XI. Ela ainda estava ali, diante deles, mas quase totalmente destruída. Toda essa nostalgia era ajudada pelos painéis do cenógrafo Flávio Léo de Oliveira, contratado especialmente para decorar o que restava da praça, e que tinha como tema a “mudança do samba”.
Mesmo com todos os problemas, uma grande quantidade de foliões se aglomerou diante do palco nobre das escolas. O tom da conversa entre todos era exatamente o mesmo: no próximo ano, aquele local não existiria mais. Muitos ali se despediram naquele dia da chamada Meca dos sambistas.
Arranha-céu
Coube à “Cada Ano Sai Melhor” abrir o espetáculo. A Portela, com o enredo “A Vida do Samba”, que contava a história do ritmo que naquela época estava sendo elevado à condição de identidade nacional, entrou logo em seguida, aumentando ainda mais o clima de nostalgia que pairava no ar.
Aproximadamente 400 portelenses entraram firmes na avenida. Firmes e dispostos a levar o bicampeonato para Oswaldo Cruz. Autor do enredo, Lino Manuel dos Reis desenvolveu a origem indígena da música brasileira, realçando-a nas fantasias que o grupo utilizava.
Com desenho de Juca, que ajudou na representação visual do tema, destacava-se a alegoria “Morro da favela”, que simbolizava o surgimento do samba. Seguiam-se os malandros de camisas listradas, fantasia que aos poucos se tornaria tradicional no carnaval carioca.
Lino e sua equipe foram até o cinema de Madureira e conseguiram uma foto de um edifício arranha-céu, coisa rara naquela hoje distante década de 40 do século passado. O edifício representava Carmem Miranda, que difundia o samba e a cultura brasileira pelo mundo, sobretudo pelos Estados Unidos, país onde os arranha-céus se tornaram uma febre.
Embalada pelo samba do Jovem Alvaiade e de Chatim, a Portela foi aplaudida durante toda a sua apresentação, deixando a avenida ovacionada pelo público. A comissão julgadora, formada por Francisco Guimarães Romano, Modestino Kanto, Florencia de Lino, Norival Dalier Pereira (A Manhã), Arlindo Cardoso (Diário Carioca), Luiz Augusto de França e Domingos da Costa Rubens (A noite), conferiu o título à Portela com 178 pontos, apenas um à frente da “Depois Eu Digo”, que também fez um excelente desfile. Com 144 pontos, a Mangueira ficaria com a terceira posição.
Ficha técnica:
Resultado: Campeã do Grupo 1, com 178 pontos
Data, Local e Ordem de Desfile: 2ª Escola de 15/02/42, Domingo, Praça XI
Autor do Enredo: Lino Manuel dos Reis
Carnavalesco: Lino Manuel dos Reis
Presidente: Benício Alberto dos Santos
1º Casal de Mestre-Sala e Porta-Bandeira: Dodô e Manoel Bam-Bam-Bam
Bateria: Mestre Betinho
Contigente: 400 Componentes
Samba-enredo:
Autores: Alvaiade e Chatim
Samba foi uma festa dos índios
Nós o aperfeiçoamos mais
É uma realidade
Quando ele desce do morro
Para viver na cidade
Samba, tu és muito conhecido
No mundo inteiro
Samba, orgulho dos brasileiros
Foste ao estrangeiro
E alcançaste grande sucesso
Muito nos orgulha o teu progresso