27/04/2024
Bateria

Tabajara do Samba

Falar da bateria da Portela é lembrar de grandes mestres que escreveram a história do samba. Sua batida firme é reconhecida no Brasil e no exterior, o que a fez ganhar fama no mundo do samba como a “Tabajara do Samba”.

Nas festas na casa do Sr. Napoleão, Sr. Vieira, D. Neném e Dona Esther, participantes dos cultos afro-brasileiros, em suas diversas linhas e nações, traziam seus instrumentos: violões, atabaques, cavaquinhos, tamborins, tamboretes, pandeiros e cuícas, que formavam o ritmo para o lundu, caxambu, jongo e samba. Desse período distante, a Portela formou o seu “regional”, grupo que se apresentava com os instrumentos em eventos, festas e circos.

Nas primeiras apresentações do então Conjunto Carnavalesco Oswaldo Cruz, o grupo utilizava os músicos desse “regional”, formando o embrião da bateria da Portela. Havia a bateria, propriamente dita e, dentro dela, componentes que formavam um conjunto regional. Grande parte dos primeiros instrumentos portelenses foi trazida do quartel pelo sargento Mendonça. Contudo, esses instrumentos precisavam ser devolvidos, e a Portela teve que produzir suas próprias peças de bateria no barracão.

Quem começou a desenhar a trajetória gloriosa da bateria da Portela foi Adalberto dos Santos, o mestre Betinho, que mudaria definitivamente o rumo das baterias e do carnaval carioca. Foi Betinho quem introduziu nas escolas de samba instrumentos como a caixa-surda e o reco-reco. Certa vez, observando um guarda de trânsito no exercício de suas atividades, Betinho teve a idéia de usar um apito para comandar seus ritmistas, iniciando uma prática que se tornou comum.

Características em mudança

Para auxiliá-lo Betinho chamou Ximbute, corneteiro do Exército, que utilizou na bateria instrumentos comuns nas bandas marciais. Oscar Bigode também foi outro grande mestre da Portela e do carnaval carioca, sempre procurando inovar e introduzir novos instrumentos.

Além desses, André, que fez sucesso inventando a “paradinha” na Mocidade Independente de Padre Miguel, Cinco, Marçal, Timbó e Mugue, foram grandes mestres e diretores de bateria da Portela.

Mestre Bombeiro é o componente mais antigo. Chegou na bateria em 1958, desfilando pela primeira vez em 1959. Seu nome é Ubirajara e recebeu o apelido de Natal da Portela, que o confundiu com outro marcador. Atualmente ele é o Presidente da Bateria.

A Portela também foi a primeira escola a permitir a participação de mulheres na bateria. Dagmar, que tocava surdo, entraria dessa forma para a História do carnaval.

A “Tabajara” conservava como característica básica o surdo de terceira com o couro mais frouxo e a batida característica criada na década de 40 por Sula. O couro mais frouxo deixava a afinação da terceira da Portela mais grave que a das outras escolas. Isso mudou nos últimos anos. Mas a batida com 4 toques curtos e 3 toques mais espaçados segue sendo a marca da escola.

A Portela eliminou de sua bateria as caixas batidas em cima, com toque de tarol, mantendo o uso da caixa rufada, cujo toque foi modificado, posteriormente, por Mestre Nilo Sergio.

Até a década de 80, a bateria ostentava dois Estandartes de Ouro, conquistados nos anos de 1972 e 1986. A “Tabajara” foi uma bateria “pesada”, onde notava-se a presença marcante dos surdos. Hoje o número de marcações, segundo informações do livro Abre Alas, caiu de 60 para cerca de 40.

Diferentemente de outras escolas, a Portela tinha a tradição de colocar todos os surdos de primeira de um lado e todos os de segunda do outro. Isso também mudou devido à aceleração do samba.

Outra mudança visível foi a entrada no segundo recuo. A Portela foi a primeira escola a passar pelo segundo recuo, dar meia-volta e entrar com a parte de trás. Hoje, para abrir espaço na avenida rapidamente, a bateria entra de frente e faz a troca de posição dos instrumentos dentro do recuo.

De 1970 ao Século XXI

Em 1971, depois do carnaval, Mestre Cinco foi trazido da Unidos de Padre Miguel para a Portela, tendo assumido o desfile de 1972. Junto com ele veio um grupo de ritmistas que impuseram uma batida diferente à escola. Não houve descaracterização total, mas a bateria passou a bater diferente.

Em 1982, Mestre Marçal – que era diretor – chegou ao cargo de mestre e resgata parte da batida da escola. Ficou até 1986. Em 1987, começou a geração Timbó.

Mestre Timbó chegou à Portela freqüentando os ensaios no Mourisco. Com experiência de bateria nos blocos da região de Laranjeiras – Canários das Laranjeiras – e Botafogo – Foliões de Botafogo -, Timbó ficou na Tabajara até 1994, quando foi substituído por Mestre Mugue.

Até o carnaval de 2002, Mestre Mugue foi o maestro da nossa “Tabajara”, herdeiro da tradição de grandes mestres portelenses.

Esse quadro só foi modificado em 1996 e 1997, com rápida passagem do Mestre Paulinho de Pilares.

Em 2003, assumiu a bateria Carlinhos Catanha, filho de mestre Catanha, que durante anos dirigiu o naipe de tamborins. Carlinhos tocava na bateria há quase 20 anos e era prata da casa. Ele fez um ótimo desfile e permaneceu na bateria até dezembro de 2003, quando foi afastado da direção. Segundo o então diretor da escola, Marco Aurélio Fernandes, Catanha estava descaracterizando a bateria. O mestre não concordou com a afirmação, mas deixou o cargo junto com vários diretores. Mestre Mugue foi chamado de volta e levou a bateria até o fim do carnaval.

Em agosto de 2004, já na administração de Nilo Mendes Figueiredo, Amando Marçal, o Marçalzinho, filho de Mestre Marçal, foi convidado para dirigir a bateria. Marçalzinho freqüentava a escola. Estava afastado da bateria desde 1986, mas aceitou o convite.

A bateria se saiu muito bem em 2005, num desfile cheio de problemas. No final do ano, ocupado com o trabalho de percussionista, Marçalzinho pediu demissão e deixou um de seus diretores no cargo. Houve boatos de que ele havia se desentendido com a diretoria. No entanto, o próprio garante que os motivos foram profissionais.

Em 2006, Nilo Sérgio, que já estava na Portela desde os tempos de Mestre Timbó, assumiu como diretor de bateria. Comandando a ala desde então, mestre Nilo Sérgio é o principal responsável pelo ótimo momento vivido. Deu início a uma importante renovação e padronização dos naipes na bateria portelense. Com seu trabalho à frente da bateria, venceu o Prêmio Estandarte de Ouro do jornal O Globo por 4 vezes: como revelação do carnaval 2006 e melhor bateria em 2010, 2012 e 2013.

Pesquisa e criação de texto: Fábio Pavão e Marcello Sudoh

Bibliografia:

ARAUJO, Hiram. Carnaval – Seis milênios de história. Rio de Janeiro. Gryphus. 2000.

CANDEIA FILHO, Antônio & ARAÚJO, Isnard. Escola de samba – árvore que esqueceu a raiz. Rio de Janeiro, Ed. Lidador, 1978.

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