27/04/2024
Mestre-sala e Porta-bandeiraSegmentos

Histórico sobre os casais

Histórico sobre o casal de mestre-sala e porta-bandeira

Casal em 1971

Uma das funções de maior importância e destaque em um desfile de escola de samba é o casal de mestre-sala e porta-bandeira.

Sabe-se que essa tradição foi herdada dos antigos ranchos, que possuíam os famosos balizas e porta-estandartes, encarregados de defenderem o símbolo da associação. Nas primeiras escolas, que muitas influências receberam das manifestações populares que as antecederam, como os ranchos, grandes sociedades, cordões etc., a dança dos balizas evoluiu para o gingado ímpar dos mestres-salas, e os rodopios das porta-estandartes se transformaram no gracioso bailar das porta-bandeiras.

Mas como essa tradição se formou nos antigos ranchos? Muitos estudiosos e pesquisadores chegaram às mais diversas respostas. Estudar as transformações dos elementos da cultura popular é sempre uma tarefa árdua e complexa.

Hiram Araújo, em “Carnaval, seis milênios de história”, apresenta-nos alguns dos estudos que procuraram buscar a origem da dança. Segundo Ilclemar Nunes, em “Mestre-sala e Porta-bandeira, meneios e mesuras”, as origens da dança remontam ao ritual das meninas-moças africanas, que se preparavam para o casamento, e dos rapazes-guerreiros, que as cortejavam dançando. Outras pesquisas apontam que a origem se encontra no Brasil Colônia, nas festas populares ou no sepultamento de negros importantes. Nessas ocasiões especiais, as tribos africanas eram identificadas por panos coloridos presos na ponta de paus, formando uma espécie de bandeira.

A figura dos antigos balizas se tornou importante para defender as antigas porta-estandartes. Era comum o “roubo” do símbolo máximo do grupo por membros de outras associações. Alguns buscam a origem da dança dos mestres-salas no gingado dos capoeiras, escondendo em seus tradicionais leques uma afiada navalha, para auxiliar na proteção do pavilhão, que não poderia ser violado sob hipótese alguma.

Também por motivos de segurança, no início do século cabia aos homens carregar os estandartes dos ranchos, com um comportamento semelhante ao dos guardas de honra militares. Talvez por isso, os pesquisadores apontam que, curiosamente, a primeira porta-bandeira das escolas de samba foi, na verdade, um homem. Tudo indica que o pioneirismo coube a Ubaldo, da Portela.

Lucinha e Marlon em 2018 (Fonte: Portal do Samba)

 

Se pode parecer estranho que muitas das primeiras porta-bandeiras tenham sido homens, o que podemos dizer quando J. Efegê, considerado o maior cronista de todos os tempos do carnaval carioca, e Hiram Araújo, maior autoridade sobre história das escolas de samba, destacam que um dos mais famosos mestres-salas, ou balizas, dos antigos ranchos chamava-se Maria Adamastor? Isso mesmo, uma mulher.

Quando os primeiros concursos de escolas de samba começaram, porém, homens e mulheres já tinham seus lugares bem definidos. Enquanto elas carregavam o pavilhão, eles as cortejavam com elegância e postura. A dança nas escolas ganhou características próprias, tendo os grandes nomes do nosso carnaval, muitos deles da Portela, deixado suas marcas no estilo e nas formas de rodar, sorrir e apresentar a bandeira.

O julgamento de mestre-sala e porta-bandeira começou a fazer parte do regulamento a partir de 1938, quando era levada em consideração apenas a fantasia (a dança começou a ser julgada somente em 1958), e hoje se constitui num dos principais quesitos, fundamental para a conquista do tão sonhado campeonato.

 

Pesquisa e criação de texto: Fábio Pavão


Bibliografia:

ARAUJO, Hiram. Carnaval – Seis milênios de história. Rio de Janeiro, Gryphus, 2000.

CANDEIA FILHO, Antônio & ARAÚJO, Isnard. Escola de samba – árvore que esqueceu a raiz. Rio de Janeiro, Ed. Lidador, 1978.

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