Jorge Freitas
Jorge Freitas
Final de 2003
Portelaweb: A Portela vai desenvolver um enredo que já foi vitorioso. Isso representa alguma coisa?
Jorge Freitas: Quando você faz um trabalho já apresentado e que foi campeão, independentemente da época, ele é aguardado como tal.
Portelaweb: Qual a diferença do enredo de 1970 para o enredo de 2004?
Jorge Freitas: Nós fizemos o inverso do que normalmente as escolas de samba fazem. Tivemos que partir do samba, que já estava pronto, e fazer todo o desenvolvimento da escola com base nele. Mas na época eram apenas 3 alegorias. Eu peguei o samba e vi que lendas ele retratava: a lenda da vitória-régia, a lenda do saci e outras. Essas com certeza têm que estar representadas, mas como nós vamos com 7 alegorias, eu vou acrescentar outras lendas para compor todo esse desenvolvimento do tema.
Portelaweb: Então, o ponto de partida foi o samba?
Jorge Freitas: O ponto de partida foi o samba. Eu peguei a cronologia do samba e comecei a desenvolver os setores, aí foi fácil. Era eu passando a idéia e o historiador pesquisando. E está tudo muito bem amarrado. Hoje nós já temos o enredo, o histórico do enredo e a justificativa. E nós temos ainda uma trilha contando a história do enredo, que é justamente como a escola vai se apresentar. Quero fazer também uma trilha visual, mas isso aí é com um pouco mais de tempo.
Portelaweb: E isso será apresentado ao presidente de ala?
Jorge Freitas: Já fiz uma reunião com os presidentes de ala e já apresentei para eles. Acho que todos que fazem parte da escola têm que estar sabendo, pois serão os atores que estarão dentro desse contexto, na avenida, representando uma peça. Eu quero mostrar o que cada elemento representa, passar o que cada carro está representando e explicar para as composições quais personagens eles estão interpretando.
Portelaweb: Então, a idéia não seria fazer um cortejo tradicional, e sim um cortejo com elementos dramatizados, é isso?
Jorge Freitas: Sim, inclusive a gente tem que deixar bem claro que quando se fala em Amazônia as pessoas relacionam logo a Parintins, e não tem nada a ver. Na verdade, Parintins é um espetáculo que conta também as lendas da Amazônia. Tanto é que a gente não vem com ala nenhuma relacionada aos bois, nós estamos contando as lendas e os mistérios, e a narrativa do festival também conta essas lendas e esses mistérios. Eu tenho a idéia de fazer um grande carnaval, mas numa linha carnavalesca. Eu venho com os figurinos um pouco mais suntuosos, na linha luxo, porque a gente não pode comparar uma coisa com a outra. Festival é festival e carnaval é carnaval. Nós estamos fazendo uma peça andando. Para o leigo que está assistindo, ao ouvir o samba ele tem que ver através do que passa na avenida a leitura do samba-enredo. Então faço uma linha muito didática, não vou fantasiar muito as coisas para deixar o povo confuso na leitura, até porque a letra do samba é muito simples e popular. Se eu dificultar muito a leitura e a compreensão fica complicado. Eu acho que uma das primeiras escolas a apresentar figurino foi a Portela.
Portelaweb: Foi a primeira.
Jorge Freitas: E as pessoas críticas do carnaval, todas elas, estão gostando da linha proposta. Eu amarrei muito bem. E dentro do ponto de partida que eu já tinha, que era a letra do samba, eu arrumei alguns outros artifícios para ilustrar. Não acho que foi muito difícil, acho que foi muito simples.
Portelaweb: Então, em termos de visual, você pensa em algo mais luxuoso e suntuoso?
Jorge Freitas: Sim, até porque nós desfilamos de dia.
Portelaweb: …porque você já deve ter notado a expectativa das pessoas em desfilar de dia. Já tinha alguma previsão contando com a sorte?
Jorge Freitas: Tinha, mas por quê? Porque a cabeça do samba-enredo diz que a Portela vem colorida. E eu fiz o meu carnaval em cima do samba. Em quase todas as alas eu dou uma pincelada de azul, mas coloquei o colorido. É só a gente mudar. O verde vai ser o verde, mas a gente coloca um verde limão, um verde cítrico, que vai permanecer a mesma coisa, mas vai funcionar de dia. A linha da escola permanece a mesma. Agora, para desfilar de dia, antes do tamanho do carro, ele tem que ser muito bem acabado. À noite, você joga uma luz e ele passa, mas, de dia, as pessoas estão vendo o detalhe lá do pé do carro. Então, vamos trabalhar para que a escola passe perfeita e bonita. Pelo menos a minha parte, a parte visual, eu quero que funcione da melhor forma possível, e vou fazer com que os outros segmentos da escola também sigam da mesma maneira.
Portelaweb: Em relação às alegorias, Jorge, muita gente vem reclamando que um dos problemas da Portela é o tamanho dos carros, considerados pequenos. Qual sua opinião sobre isso?
Jorge Freitas: Essa é uma linha que a escola adotou. Eu não vou falar que são pequenos, não. Pelo espaço físico que nós temos, não podemos sonhar em fazer carros de 60 metros, porque nós teríamos que fazer apenas um carro. Então, nós temos que nos adequar ao nosso espaço e procurar fazer, dentro desse espaço, o melhor trabalho. Não adianta eu sonhar com carros de 10m de altura se nosso barracão tem 4,80m de pé-direito. E para testar tudo isso? Eu acho que tudo que vai para a avenida precisa ser testado. Com certeza, é isso que implica no tamanho dos carros da Portela, que eu não acho que sejam pequenos. Você tira, por exemplo, a Imperatriz. Ninguém questiona o tamanho dos carros da Imperatriz. Quem questiona os carros da Portela, em sua maioria, são os próprios portelenses. Contudo, é fora da realidade se querer aumentar uma coisa em proporção ao espaço de trabalho que a gente tem. Agora, é o seguinte: nós temos também todos os chassis já prontos. Para a gente alongar uma coisa que vem determinada de fábrica é complicado. Nós estamos fazendo coisas que de repente já deveriam vir de um engenheiro, uma coisa pronta, um chassi para carro alegórico. Todas as escolas que apresentam carros grandes os trazem acoplados.
Portelaweb: Até porque eles não virariam na avenida…
Jorge Freitas: Não virariam. Então, pensem bem: fazendo aqui um carro de 40 metros, nós teríamos que acoplar três carros. Já se foi um box do nosso barracão. E nós vamos fazer mais quantas alegorias?
Portelaweb: Como começa o enredo?
Jorge Freitas: Eu fiz uma cabeça mais ilustrativa. Eu vou fazer, na entrada da escola, a parte fenícia. Hoje existem estudos que dizem que foram os fenícios os primeiros a terem contato com os povos da Amazônia. Inclusive há estudos atuais dizendo que o Rio Solimões tem esse nome em homenagem ao Rei Salomão. Então, eu relaciono essa idéia com a questão do Eldorado. No abre-alas, a idéia inicial é termos a Águia, representando apenas o símbolo da agremiação – uma das poucas que ainda trazem o símbolo no carro – e o dragão da serpente, que representa a lenda do Eldorado. Essa vai ser a cabeça da escola, as duas primeiras fantasias.
Portelaweb: E, em seguida, o amor impossível entre o Sol e a Lua?
Jorge Freitas: Sim, depois teremos o amor do Sol pela Lua. Na alegoria que trata da origem do Rio Solimões, teremos uma escultura que, entre outros movimentos, vai chorar e suas lágrimas vão representar a origem do rio. Essa é a nossa primeira lenda, que é a cabeça do samba. Depois, serão representadas as lendas da vitória-régia; e de Iara.
Portelaweb: Mas a estrutura é assim mesmo para facilitar a perpetuação e a memorização da história. E as demais lendas?
Jorge Freitas: Em seguida, falaremos sobre “O Reino da Cobra Grande e a origem da noite”. Aí vem a nossa bateria, que é a Cobra Grande. E, depois disso tudo, surge um pássaro que por suas cores determinava o início da noite e o início do dia, e essa será a fantasia das Caprichosas de Oswaldo Cruz. O quarto carro será o da Cobra Grande, que é a origem da noite. Depois, mostraremos o surgimento do primeiro beija-flor. Sob um manto azul, conta a lenda, surgiram as cores através do beija-flor. Nessa ala, que vai ser a ala das Bailarinas
Portelaweb: Isso de dia vai ficar muito bonito…
Jorge Freitas: E, encerrando esse setor, a primavera, a estação de acasalamento das amazonas, as índias guerreiras, que viviam no reino das pedras verdes. Então, a alegoria desse setor representará as amazonas; os beija-flores, a origem das cores; e as borboletas, a questão da alma das crianças órfãs.
Portelaweb: Dá para notar que a presença feminina é muito forte na Portela…
Jorge Freitas: Muito, e só entre essas alas nós temos a presença de três alas de comunidade. Eu quero coreografá-las, mas de acordo com a essência folclórica das danças da região.
Portelaweb: Com quantas alas a escola sairá?
Jorge Freitas: Nós vamos sair com 37 alas; 17 só de ala de comunidade.
Portelaweb: E como será contada a origem do guaraná?
Jorge Freitas: O índio Aguiri, em sua tribo, gostava apenas de comer frutas. Certo dia, à procura de frutas, ele foi capturado pela serpente venenosa, que seria o deus do mal, que o feriu e o matou. Tupã ordenou que fossem tirados os olhos de Aguiri e enterrados. E naquele local onde foram enterrados os olhos de Aguiri nasceu o guaraná, que tem a mesma imagem dos olhos de uma pessoa. Depois dessa ala, viremos com outra ala de comunidade, que é a do Saci, e teremos uma ala de Forró, porque o boto se transformava em homem e ia para essas festas seduzir as mulheres. Até hoje, na Amazônia, quem é filho de mãe solteira é filho do boto. E a gente vem com o carro do boto.
Portelaweb: E o encerramento?
Jorge Freitas: Por fim, o Uirapuru e seu canto doce e suave, que se espalhou até o reino das águas, representado pelos peixes; até o reino dos animais, representando a terra – que eu caracterizei como a onça – e o reino do ar, caracterizado pelo papagaio. Então, esses são os três elementos fortes dentro do cenário tropical e da fauna brasileira. Nós estamos fechando nosso carnaval com o Uirapuru, com a tradição portelense que vem com a sua velha guarda, e toda a questão da fauna e flora da Amazônia nesse último carro
Portelaweb: E em relação ao cumprimento dos protótipos?
Jorge Freitas: Eu fiz uma reunião com os presidentes de ala cobrando isso, e aí me perguntaram se vai ser cobrado de todos os setores da escola. Sim, quando eu conversar com outros setores, vou cobrar deles. Alas, dentro de todas as agremiações, têm problemas, agora, depois de todo esse movimento que foi feito, quem for portelense mesmo tem que colaborar para que a Portela venha numa colocação boa. Não podemos cair de qualidade, principalmente por estar desfilando de dia. Além disso, as alas da Portela não têm um grande contingente, então eles precisam fazer da melhor forma possível para que seja apresentado com clareza. Quanto menos componente, mais perfeito vai ter que ficar. Eu acho que depende de todo mundo colocar a Portela no lugar que ela tem que ficar. O nome da Portela é muito forte, agora basta as pessoas fazerem com que ela realmente seja forte. Eu estou numa expectativa muito boa, numa ansiedade muito grande.
Portelaweb: Gaviões da Fiel, bicampeão; agora você chega ao Rio de Janeiro, Portela, e aí?
Jorge Freitas: Na verdade, quem enfrenta Gaviões passa por qualquer coisa, porque lá a cobrança é muito grande. Mas eu moldei a Gaviões na minha forma de trabalhar. Então, eles acharam que eu jamais iria largar a escola, mas eu já falei para eles o porquê da minha opção, tanto que mesmo depois de ter fechado o contrato com a Portela eles queriam que eu fizesse, mas aí optei só pela Portela.
Portelaweb: Como você começou no carnaval?
Jorge Freitas: Na verdade, eu sou coordenador de um colégio religioso em Friburgo, lecionava Educação Física e Educação Artística, mas sempre fui regente da banda. Dentro desse meio, eu sou muito bem visto, porque minha banda foi inúmeras vezes campeã regional, estadual e nacional.
Portelaweb: No interior é muito forte a tradição de bandas, não é?
Jorge Freitas: Eu vou trazê-la um dia para a Portela. E seria ótimo, porque as crianças precisam de musicalização. Eu vou fazer uma apresentação lá num sábado… Aos 19 anos eu fui para um orfanato montar uma banda, a Aldeia da Criança Alegre, uma entidade que era custeada por alemães. Casei, aos 19, e eu e minha esposa fomos tomar conta de 20 crianças. E no distrito desse orfanato tinha um bloco. Eles não iriam sair porque não tinham mestre de bateria, aí me chamaram. Eu nunca tomei conta de bateria, banda é outra coisa. Aí eu fui, levei todo mundo da banda, a criançada, fizemos os ensaios e no meio da preparação do carnaval o carnavalesco saiu, deixou tudo por fazer. Como eu dava aula de Educação Artística, perguntaram se eu não queria fazer os desenhos. Então, fiz os desenhos e levei o bloco para desfilar em Friburgo. E assim eu passei a tomar gosto pelo negócio, e no ano seguinte o bloco ganhou. Aí todo mundo ficou satisfeito, eu comecei a gostar, e comecei a desenhar roupa para minha esposa participar dos concursos da cidade.
Ela foi tricampeã do concurso municipal, e num ano veio representar Friburgo no Monte Líbano, ficando em terceiro lugar.
Nesse concurso, eu conheci uma senhora chamada Matilde Gimenez, lá de Mesquita, que vendia material de carnaval e conhecia o presidente do Arranco, e naquele ano o Arranco estava precisando de carnavalesco. Como ela sabia que eu fazia e gostava desse trabalho, me colocou em contato com ele. Isso foi em 96. Eu nunca tinha visto a Marquês de Sapucaí, levei o Arranco e a gente foi campeão.
Portelaweb: Qual o enredo?
Jorge Freitas: “Ser Brasil, ser brasileiro”. Nós ganhamos e subimos de grupo, junto com o Acadêmicos do Dendê. Aí eu tive contato com o pessoal da Vila, grupo especial, mas quando eu cheguei, a realidade era bem diferente. A Vila estava com vários problemas e já tinha o enredo. Eu entrei com a escola com tudo pronto e tive que fazer os figurinos e os carros. A escola ficou em nono lugar. Era a bola da vez, desciam quatro, e a escola ficou em nono. No ano seguinte, em 98, eu programei um carnaval fabuloso, “Lágrimas, suor e conquista…”, porque eu gosto dessa linha histórica. A Vila Isabel parada, na concentração, estava linda. Os carros maravilhosos. Quando andou… nada funcionou. A bateria não parou no box, o abre-alas não acoplava, mas por quê? Eu projetei um carnaval para uma escola que não teve organização. Eu coloquei um telão que passaria a edição de um filme, pois eu terminei com a Revolução Francesa, que representava a mudança pela idéia do Iluminismo. Na concentração estava maravilhoso; embicou na passarela, apagou… No ano seguinte a Rosa botou telão e funcionou, até então ninguém tinha posto. Tudo depende de estrutura. E carnaval é aquilo que só acontece no momento, você projeta uma coisa que pode dar errado na hora. Mas o projeto foi tão legal que a escola não caiu, ficou em décimo segundo, e no ano seguinte me chamaram para fazer novamente. Me chamaram para fazer João Pessoa. Sem recurso. Eles estavam esperando um patrocínio que não veio, ficaram devendo horrores no carnaval de 1998. A verba que entrou pagou dívidas. Eu tive que aproveitar muita coisa, e o desfile foi legal. Fiquei três anos ali e permaneci com a escola no Grupo Especial e os três anos sendo a bola da vez para descer. Aí me chamaram para fazer a Gaviões. No primeiro ano, perdi o carnaval por meio ponto no último quesito, mestre-sala e porta-bandeitra, porque o resplendor da porta-bandeira caiu, senão eu ganhava sozinho. Depois disso só ganhei…
Portelaweb: Aliás, o enredo de 2002 é muito legal, “Xeque-Mate”.
Jorge Freitas: Xeque-mate é um enredo que eu tenho vontade de repetir, pois a idéia é muito ampla. Eu só peguei o gancho do jogo para soltar isso em nossa vida cotidiana, colocando a opressão dos países capitalistas sobre os países do Terceiro Mundo. Lá em São Paulo todo mundo falava desse enredo, tanto é que o último refrão foi usado na campanha política. Outra coisa interessante é que o xadrez é um jogo intelectual, não é muito difundido no Brasil, mas o enredo deu um retorno fantástico para a Federação Brasileira de Xadrez. Veio todo mundo desfilar, inclusive o campeão sul-americano.
Portelaweb: Jorge, você passou por três situações distintas: Grupo Especial do Rio, Grupo Especial de São Paulo e Grupo de Acesso do Rio. Qual a diferença de um para o outro, no que diz respeito a verba, estrutura etc.
Jorge Freitas: Na Vila, em 2003, eu desenvolvi o enredo mas não tive fidelidade à minha proposta. Acho até que para grupos de acesso a Vila fez alguns carros bem acabados, muito legais para a realidade, mas eles estavam contando com uma verba que não saiu. A proposta inicial acabou. Fez um desfile legal, acredito que daria para estar disputando, mas na avenida houve outras agremiações que foram mais envolventes. Já em São Paulo é tudo muito profissional. Eu levei minha equipe todinha daqui e trabalhamos com profissionalismo mesmo, tudo com contrato, certinho. Tudo com organograma. É por isso que bato na tecla do organograma, porque eu trabalho dessa forma. E aqui na Portela, até agora, a conduta tem sido muito séria. Eu trabalho direto com o Marcos (Marcos Aurélio Fernandes, Assessor da Presidência). Quero trazer uma linha profissional, ter contato com os chefes de ala, com a Harmonia pelo menos duas vezes por mês, para colocar todo mundo em sintonia, sabendo o que está acontecendo.
Portelaweb: Agora, há uma pergunta que não podemos deixar de fazer e vai ser a pergunta que você mais vai ouvir até o carnaval: como vem a Águia?
Jorge Freitas: Todo mundo falava muito disso: “Poxa, você vai entrar na Portela, como vai fazer a Águia?”. Ou você faz uma Águia tradicional ou vai estilizar, mas eu já sei que o povo da Portela não gosta de Águia estilizada. Então, eu vou vir com a Águia normal, a decoração é que eu vou fazer de acordo com o enredo. Hoje em dia, eu não posso fazer um carro só para a Águia, ela tem que estar adequada ao enredo, porque é mais uma alegoria. Então, eu vou fazer uma Águia tradicional, mas decorada com as cores do abre-alas. Como eu venho falando de Eldorado no abre-alas…
Portelaweb: Mas há perspectiva em relação ao que a Águia vai fazer na avenida – tecnologia, efeitos especiais? O carnavalesco da Portela é sempre cobrado por isso. Se ela vem estática, com movimentos…
Jorge Freitas: Estática não, até pelo fato de nós estarmos trabalhando com o pessoal de Parintins.
Portelaweb: O pessoal de Parintins continua?
Jorge Freitas: Continua, e a Águia virá com todos os movimentos de asa, bico, olho, quero colocar um som possante, mas nem tudo eu posso falar agora. Eu quero colocar bastante efeito de luz no abre-alas, porque ele entra ainda de noite.
Portelaweb: É você quem pensa todos os movimentos ou recorre ao engenheiro?
Jorge Freitas: Sou eu que faço tudo. Risco planta baixa… Acho que o carnavalesco precisa fazer isso.
Portelaweb: Estamos perguntando isso porque, da forma como a coisa está indo, algum dia vão recorrer à COPPE da UFRJ para elaborar um projeto para a Águia voar…(risos)
Jorge Freitas: O problema disso é o custo. O Grupo Especial tem um recurso grande, mas, para fazer alguma coisa nesse sentido, você precisaria dos recursos todos só em função da Águia.
Portelaweb: E os demais carros, o que os internautas e portelenses de uma maneira geral podem esperar?
Jorge Freitas: Eu tenho muitas idéias, estou com 4 carros já na planta baixa, mas estou esperando o Jairzinho vir de Parintins para ver como fica na prática. Eu tenho a parte teórica, o que eu quero, agora vamos ver de que forma a gente pode solucionar isso, para não ficar também com um custo absurdo, porque eu acho que o “chão” da escola é fundamental, acho que a gente precisa investir no “chão” também. Em relação aos carros, já está tendo uma mudança na estrutura deles, porque eu gosto de trabalhar com tubos, e está dando trabalho porque é novidade para eles (os ferreiros). Agora, carnaval é um conjunto. Não adianta só ter carro, é preciso ter chão forte. Não precisa só ter chão, é preciso ter carros bonitos também. E não acho que tamanho seja tudo.
Portelaweb: Muitas pessoas têm questionado a escolha do enredo da Portela por causa do enredo da própria Portela de 2002. Mesmo sendo enfoques diferentes, até por um falar do Amazonas e o outro da Amazônia, muitos argumentam que o visual é semelhante. O que você pensa sobre isso?
Jorge Freitas: Primeiro, a escolha foi uma opção da agremiação. Quando eu fechei contrato, a direção me comunicou que eles desejavam fazer esse enredo. Eu não vi o desfile de 2002 da Portela, até porque eu não estava no Rio, não assisti a nenhuma fita, e se há alguma semelhança é coincidência mesmo. Mas não vai ter porque cada carnavalesco tem sua característica. E meu risco eu tenho certeza que é completamente diferente. O próprio enfoque é diferente. Nós não estamos falando do Amazonas, como aspecto social, nós estamos falando só de lendas. Então, esse tipo de análise também vale para futuras comparações com o enredo de 2004 da Beija-Flor, que também é sobre o Amazonas. Eles falam do Amazonas, nós estamos centrados nas lendas. Eu gosto de falar do meu trabalho.
Entrevista realizada por Fábio Pavão e Rogério Rodrigues em Julho de 2003.