Alberto Lonato
ALBERTO LONATO
Quem passava por Oswaldo Cruz dificilmente notava a presença de um senhor magrinho e franzino.
Talvez a elegância chamasse a atenção. Bem vestido, sempre de chapéu e terno, educado, galanteador, sempre apressado para o trabalho. Alberto Lonato deixou belas poesias, algumas delas gravadas pelo amigo e companheiro de trabalho Paulinho da Viola.
Nascendo em Quintino
Alberto Lonato da Silva nasceu em 8 de novembro de 1909, em Quintino Bocaiúva. Seu pai, João Lonato da Silva, era funcionário da Estrada de Ferro Central do Brasil, na estação de Cascadura. A boa educação que recebeu dos pais foi pelo resto da vida lembrada por Alberto, em forma de gratidão.
Entre Oswaldo Cruz e Quintino Bocaiúva existem os bairros de Cascadura e Madureira. A relativa distância entre esses dois lugares não impediu que existisse uma estreita ligação entre eles. Muitas figuras importantes da Portela, em seus primeiros anos, vieram de Quintino, e várias reuniões que resultaram na fundação da escola aconteceram naquele bairro. Alberto Lonato é mais um representante de Quintino que entraria para a história da Portela.
Reuniões na Rua Quintão
Os primeiros contatos com o samba aconteceram por volta de 1916, na casa de Madalena Xangô de Ouro, na Rua Quintão, ainda em Quintino. Dessas reuniões também participavam outros portelenses que se tornariam famosos, além de personalidades que já faziam sucesso no Centro da cidade, como Pixinguinha e Brancura. Esses encontros, lembrados com saudade por quem participava deles, serviram de escola para o jovem Alberto.
Lustrando poesias e móveis
A vida de Alberto Lonato não foi feita apenas de samba, muito pelo contrário. O samba, que o tornaria famoso, sempre apareceu como ocupação secundária em sua vida. “Seu” Alberto foi maleiro, maçaroqueiro e lustrador, profissão que também era exercida por Paulo da Portela. Lustrou algumas peças produzidas pelo jovem Paulinho da Viola, criando um vínculo de amizade que se estenderia através dos anos. Quando os amigos, já aposentados, se reuniam à tarde para o tradicional bate-papo, Alberto Lonato dificilmente podia participar, pois o dever profissional estava sempre em primeiro lugar.
Elegância
As semelhanças entre Alberto e Paulo não se limitavam à profissão em comum. Alberto Lonato também fazia questão de andar bem vestido. Sempre era visto em companhia de seu terno e de seu chapéu. Foi um eterno galanteador, apaixonado pelas mulheres, mas sempre mantendo o respeito, fruto da educação herdada de seu pai.
Vagando pelo samba
Mesmo tendo assistido a algumas reuniões que resultaram na fundação da Portela, Alberto Lonato só passou a integrar a escola no final da década de 30, trazido por Mestre Betinho. Antes, Alberto Lonato tinha participado da Mangueira e da Unidos de Rocha Miranda. Desta última agremiação também veio seu amor, Dulcinéia Lonato da Silva, compositora e mãe de seus 4 filhos.
Alberto e o pandeiro
Alberto da Caceta, como era conhecido por alguns amigos, tinha uma forma ímpar de tocar pandeiro, a qual era vista apenas na Portela. Junto com o parceiro Argemiro, coincidentemente outro que se criou nas festas de Quintino, formou uma dupla de exímios pandeiristas que faria sucesso nos shows da velha guarda. Enquanto a Portela manteve sua comissão de frente tradicional, Alberto Lonato foi presença garantida, engrandecendo a relação de grandes nomes que tinham a tarefa de apresentar a escola.
A velha guarda
Alberto Lonato integrou o conjunto da Velha Guarda da Portela desde os seus primeiros shows. Com o grupo, Alberto conheceu grande parte do Brasil. Algumas de suas composições foram incluídas nas gravações da velha guarda, e outras aguardam a oportunidade para serem incluídas futuramente. Em 1992 Alberto sofreu um derrame, passando a ter dificuldades para se locomover.
As composições
Entre as composições de Alberto Lonato gravadas por artistas de sucesso incluem-se “Com Lealdade”, gravada por Paulinho da Viola, “Não pode ser verdade”, gravada por Cristina Buarque, “Sofrimento de quem ama”, “Esqueça” e “Você me abandonou”, sucessos nas gravações da Velha Guarda, além de “Peixe com coco”, em parceria com Maceió e Josias, incluída no LP Brasil Mestiço, de Clara Nunes.
A última homenagem
Alberto faleceu em janeiro de 1999, às vésperas de completar 90 anos. A Portela se preparava para o carnaval, que iria acontecer em poucas semanas. Num domingo ensolarado, triste para os antigos portelenses, a escola ensaiava na Estrada do Portela. A faixa preta no canto da bandeira demonstrava o luto, apesar de o ensaio transcorrer aparentemente normal. Na Praça Paulo da Portela a escola parou. A evolução foi interrompida. Os passistas pararam de sambar. Não se ouvia mais o samba. Poucos entenderam o que estava acontecendo.
Era a última homenagem a Alberto Lonato. Durante um minuto todos lembraram da vida desse grande portelense. Quem estava na Portelinha, reduto de seus antigos amigos, saiu para participar da homenagem.
Adeus, Alberto Lonato.
Bibliografia:
CABRAL, Sérgio. As escolas de samba do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro, Ed. Lumiar, 1996.
VARGENS, João Baptista M. & MONTE, Carlos. A Velha-Guarda da Portela, Rio de Janeiro, Manati, 2001.