29/04/2024
Anos 40Outros Carnavais

1949

1949 O despertar do gigante

As conseqüências do polêmico resultado do ano anterior ofuscaram bastante o brilho do carnaval de 1949. Liderados por Mangueira e Portela, 25 escolas romperam com a Federação das Escolas de Samba, passando a integrar o desfile da União Geral das Escolas de Samba do Brasil. A partir desse ano, a divisão no mundo do samba foi institucionalizada.
 
Dois desfiles distintos passaram a fazer parte do calendário carioca: o da F.E.S., que, conseguindo o apoio do poder público, foi considerado o oficial, e o da UGESB, não-oficial, isto é, sem receber a subvenção pública.
 
Ignorando o que acontecia no desfile da F.E.S., cuja honestidade era questionada por mangueirenses e portelenses, que acusavam a entidade de estar sob o controle de Irênio Delgado e o espetáculo armado para o Império Serrano, escolas como Portela, Mangueira, Prazer da Serrinha, Unidos da Tijuca, Unidos da Capela, Império da Tijuca e Unidos de Vila Isabel se preparavam para o desfile não-oficial com a certeza de que a qualidade do espetáculo seria superior ao chamado desfile oficial.
 
Se essa “divisão” no mundo do samba já tornava o ano de 1949 triste para o sambista anônimo, mais triste ainda era para os portelenses. Paulo, afastado da escola que fundou desde 1941, falecera dias antes do carnaval, sepultando definitivamente as esperanças de que um dia Paulo e Portela voltassem a se entender. Em sua homenagem, um grupo da escola de samba Lira do Amor, da qual Paulo era integrante desde sua briga com a Portela, desfilou sem som, de luto, apenas em sinal de respeito ao mestre.
 
Mas carnaval é alegria, e a Portela lutava por mais um campeonato. Era hora de esquecer os problemas e curtir o grande dia para os sambistas. O enredo portelense chamava-se “O Despertar do Gigante”, em mais um trabalho organizado por Lino Manuel dos Reis. Embalado por mais um belo samba composto por Manacéa, a Portela enfocava o descobrimento do Brasil e seus primeiros habitantes. Em uma alegoria, índios representavam a população nativa que habitava o país.
 
Em outro carro, a Portela trazia Estácio de Sá, fundador da cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro, sobrinho de Mem de Sá, governador geral do Brasil, e responsável pela expulsão dos franceses que invadiram a Baía de Guanabara.
 
A comissão julgadora era formada pelo Major Paredes, Burle Marx, Gastão Formenti, Armando Vianna e Pires da Silva, e apontou a Mangueira como campeã e a Portela como vice.
 
Enquanto os dirigentes se desentendiam, na esperança do humilde componente, o sonho de que no ano seguinte voltássemos a ter um só espetáculo e que as diferenças fossem resolvidas dentro da avenida, ao som da bateria, como devem ser as disputas carnavalescas. No outro desfile, o Império Serrano saiu vitorioso. 
 
Ficha técnica:
 
Resultado: 2ª Colocada do Grupo não oficial
Data, Local e Ordem de Desfile: 27/02/49, Domingo, Praça XI 
Carnavalesco: Lino Manuel dos Reis 
Presidente: Antenor dos Santos
1º Casal de Mestre-Sala e Porta-Bandeira: Dodô e Manoel Bam-Bam-Bam 
Bateria: Mestre Betinho 
 
Samba enredo:
Autor: Manacéa
 
Pedro Álvares Cabral
Descobriu o Brasil
Foi casual
Navegava em alto-mar
Seu destino era a Índia
Cabral não podia continuar
Teve de se afastar
Das calmarias do mar
Foi assim que Cabral descobriu
Um gigante adormecido
Que hoje se chama Brasil, Brasil
Pero Vaz de Caminha escreveu
Numa carta a Dom Manuel
Explicava que esta terra
Que Nosso Senhor nos deu
Dava tudo que plantava
Relatava as riquezas
Feitas na natureza

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