Mestre Bombeiro
Mestre Bombeiro
O presidente da Tabajara do Samba
Beethoven já nos deixou claro que não é preciso ouvir somente com os ouvidos para ser um bom regente. Ouvindo com seus sentimentos, tocava, regia e compunha com maestria, mesmo após ter ficado completamente surdo. Mais do que com os ouvidos, é preciso saber ouvir com a alma e o coração.
“Seu” Ubirajara não fez muito diferente. Lá pelos idos de 1956, ainda jovem aos 21 anos de idade, chegou à Portela ingressando diretamente na bateria. Hoje, 54 anos depois, mesmo após ter apresentado surdez total do ouvido esquerdo (isso lá pelos meados da década de 1980), ele ainda está lá, dirigindo a Tabajara do Samba, como gosta de dizer. Com a Portela, foi campeão, bicampeão, tricampeão, tetracampeão, como ele mesmo diz, “sempre derramando muito sangue no surdo”.
Ubirajara dos Santos é um ex-funcionário público aposentado, nascido em 16 de julho de 1935, e um contador de histórias de primeira linha. No entanto, como aqueles seres mágicos dos quadrinhos, sua verdadeira identidade só se revela quando ele está regendo a bateria da Portela. Lá ele é o Mestre Bombeiro, o mais antigo diretor de harmonia em atividade no Rio de Janeiro. Na Portela, foram seus ritmistas Marçal, Timbó, Mug, Armando (Marçalzinho, filho de Mestre Marçal) e Nilo Sérgio, entre tantos outros nomes. Bombeiro é a memória viva (o documento-monumento) da bateria da Portela. O registro sonoro de suas afinações, seus sons, sua cadência e suas cuícas e terceiras peculiares. É certo dizer que, em alguns momentos, a história da Portela se funde ou até mesmo se confunde com a história de sua própria vida.
A Equipe PortelaWeb aproveitou e bateu um longo papo com o “Seu” Ubirajara, que nós, portelenses, conhecemos como Bombeiro, diretor de bateria.
Portelaweb: quando e como o senhor chegou à Portela?
Bombeiro: Eu cheguei à Portela em 1956, por apresentação do meu irmão, José Vieira, que foi presidente da Velha Guarda.
Eu saía no Salgueiro, mas em ala. Eu ensaiava na bateria do Salgueiro, mas não desfilava na bateria. Os diretores perguntavam: “Por que você ensaia na bateria, mas não desfila?”. Eu dizia que só tem uma bateria que eu gosto, que é a da Portela. Desde garoto, quando eu vi a bateria da Portela pela primeira vez, eu falava para a minha falecida mãe: “Mamãe, eu ainda vou sair nessa bateria. Se Deus quiser!”.
Eu frequentava o Salgueiro porque eu fui nascido e criado na Tijuca.
Em 1959, eu falei com o meu irmão, que na época saía na Ala dos Impossíveis, para me levar para a Portela. E ele me levou e me apresentou ao Betinho. Hoje, o pessoal chega e todo mundo sai na bateria com a maior facilidade, mas naquela época só tinha baluarte. Para se ter uma idéia, era a Tabajara do Samba.
Eu cheguei à Portela já na bateria. Quando eu cheguei o diretor de bateria era o Betinho. Ele falou para o Quincas e o Forte Teixeira: “Faz um teste aí com o garoto”. Naquela época a bateria ficava embaixo da jaqueira, não tinha telhado, não tinha nada. Se chovesse a bateria ficava embaixo da jaqueira mesmo, no terreno de barro. Daí peguei a terceira, que foi sempre a minha tradição na Portela, que é aquela pancada de balanço. Então peguei a terceira, a bateria entrou, eu entrei com a pancada, eles olharam e falaram: “O moleque é bom”. Para chegar nessa bateria tinha que fazer um teste em um terreno baldio em frente à Portelinha.
Portelaweb: e a história do senhor na bateria? O senhor começou tocando surdo? E até chegar a diretor, como foi essa evolução? Comente um pouco acerca de seu convívio com os mestres de bateria da Portela.
Bombeiro: Eu comecei tocando terceira, surdo de centração. Quando o Carlinhos Maracanã ganhou a presidência, o Quincas passou a ser o vice-presidente da bateria e o Cinco passou a ser o mestre da bateria. O Sr. Waldemiro, nessa época, era diretor de bateria.
Até 1975 eu era ritmista. Dois meses depois do falecimento do “Seu” Natal, houve um problema na diretoria, que naquela época era composta pelo Cinco e pelo Bandeira. Aí, acharam de afastar o Bandeira e perguntaram ao Cinco se havia algum componente da bateria em condições de assumir o lugar dele, para ficar também como diretor de bateria. Foi quando o falecido Nozinho, irmão de Natal, falou assim: “Tem um garoto, um garoto muito bom, um garoto comportado, nunca deu problema na bateria, que é o Bombeiro”.
No dia da reunião estava todo mundo reunido ali embaixo e, de repente, lá de cima, mandaram-me subir. Aí eu subi. Estava Carlinhos Maracanã, estava a galera toda. Aí o Quincas chegou e falou: “Sr. Carlinhos, eu vou apresentar o novo diretor de bateria, para substituir o Bandeira. Temos que botar mais um porque só temos dois. O Bombeiro é um componente que já está aqui com a gente há muitos anos, nunca deu problemas para nós, a galera gosta dele, sempre foi considerado”. Então, eu assinei o livro de ata, mas foi um sufoco para mim poder segurar essa bateria.
Eu senti muita dificuldade porque eu era novo. Então, muitos componentes da bateria – o pessoal da antiga, da pesada – achavam que eu não ia ter condições de manter a bateria. Mas aí foi aquele negócio, quando o Mestre Cinco chegou e falou assim (já tinha começado o samba, eu estava ao lado observando como ele comandava a bateria): “Bombeiro, agora você traga a bateria”. Eu cocei a cabeça, era a primeira vez. Casa cheia, porque naquela época o Portelão botava gente pelo ladrão. Eu subi, eles estavam cantando o samba, na época não se usava apito, era sinal. “Então, tá cantando o samba, passou a primeira, a segunda e daí a bateria não entra. Quer dizer, estavam fazendo um complô, porque eles ficaram chateados porque tiraram o outro diretor, que era o Bandeira, e eles acharam que quem tinha que ficar era o Bandeira”. Quando a bateria entrou, eu fui regendo, eu fui botando no esquema. Foi indo, foi indo, até que eles, mesmo achando que eu ia pegar a bateria de uma escola de samba grande e ficar de nariz empinado, chegaram à conclusão que “pô, o Bombeiro continua a mesma coisa, não mudou nada”. Só que eu falava: “Hora de brincar a gente brinca, hora dos trabalhos acabou a brincadeira”.
Quer dizer, em 1976 foi o primeiro ano que eu desci como diretor de bateria, o mestre era o Cinco e o Quincas era o vice-presidente.[1] Em 1982, o Marçal passou a ser o mestre de bateria[2]. O Mestre Cinco e o vice-presidente Quincas saíram e este último cargo foi extinto. Eu fiquei afastado quase uns três anos[3].
Então, eu me afastei e fui convidado para tomar conta do bloco da Unidos da São Brás, do Engenho de Dentro, que, na época, estava disputando para ir para a Marquês de Sapucaí. Quem me levou foi o meu filho, o César. Só que o pessoal da bateria achava o seguinte: “O Bombeiro tá lá no bloco, vamos lá ajudá-lo”. Então, as marcações todas saíram no bloco, como a ala do agogô. Foi a maior covardia. O bloco ganhou o carnaval e ainda coloquei o bloco na Sapucaí.
Na época em que eu era diretor, o Timbó era ritmista, saía marcando surdo. Quando o Marçal assumiu a bateria, chamou o Timbó para ser diretor dele. Quando o Marçal foi afastado, convidaram o Timbó para ser o mestre de bateria[4]. Só que, depois que eu me afastei, eu tive um problema no ouvido e tive que operar, e aí eu fiquei com problema de surdez. Eu já tinha problema de audição, porque ao ficar ali a gente vai perdendo o tímpano, “então um dos tímpanos suturou” (sic). Foi quando eu tive que fazer a cirurgia no ouvido. Foi quando o Timbó ligou para a minha casa, dizendo que ia me levar de volta para a Portela. O pessoal ficava falando, “como é que pode, não falavam que ele era surdo?”. Ele falou assim: “Ele ficou surdo mas ele me serve, depois do que ele fez comigo naquele bloco do São Brás!”. Porque o Timbó era do bloco dos Canarinhos de Laranjeiras, quando falaram para ele que “tem um bloco aí, o Unidos da São Brás, que entrou na Avenida Rio Branco, arrebentou e foi para a Marquês de Sapucaí”. “Que bateria!”, “Quem tá lá é o Bombeiro”. Ele ainda me xingou porque eu quebrei com a bateria dele. Foi covardia, colocar a bateria da Portela para desfilar no bloco, que bateria cadenciada!
Então, ele falou assim: “Bombeiro, você é o responsável pelas marcações”.
Durante o tempo em que o Timbó ficou na bateria, ele só tirava nota máxima. Teve ano que nós salvamos a Portela, que estava lá para ser rebaixada, e quando abria o envelope, a bateria salvou a Portela. O Timbó dirigia a bateria na maior simplicidade. Ele era fechado, não era de ficar sorrindo, mas ele era um senhor diretor de bateria, eu gostava do trabalho dele. Ele era todo cheio de pose, quando ele pegava o bastão e o rodava, ele levava a bateria na maior cadência e apresentava a bateria.
Portelaweb: desde 1976, com vários mestres entrando, como ficaram as características da bateria da Portela? Nesse tempo todo, desde que o senhor entrou como diretor, houve alguma mudança significativa?
Bombeiro: Na época do Betinho (Nota: Bombeiro se refere às décadas de 1950 e 1960), não tinha paradinha, era uma pancada, primeira, segunda; e quem mantém a tradição até hoje também é a Mangueira, com a pancada direta, firme. Não tinha paradinha, era mais fácil para dirigir a bateria e saíam poucos componentes. Quando eu cheguei, a bateria saía com uma base de 120 ritmistas, porque naquela época a escola não era tão imensa como é hoje.
Quando o Cinco pegou a bateria, ele aumentou um pouco a velocidade, porque eles estavam acostumados com o ritmo de Padre Miguel (não é a Mocidade Independente, não, é a Unidos de Padre Miguel). A pancada deles era pauleira. Tudo bem! Aumentou um pouco a velocidade, mas ele conseguiu conservar a tradição da bateria que era a Tabajara do Samba. Só que era um pouco mais acelerada. Ele ficou até 1980.[5]
Até a época do falecido Timbó nós tínhamos as marcações maiores, era tudo surdo grande.
Na época do Timbó, naquele ano em que a Portela tirou segundo lugar e a Imperatriz foi campeã (1995), a Portela veio com aquela pancada forte, que o pessoal que estava concentrado lá nos Correios sentiu quando a bateria entrou. O pessoal lá nos Correios já começava a desenvolver, a cantar, a sambar com o ritmo, com o som que já estava entrando na pista. O pessoal ainda escutava a pancada porque as dimensões dos surdos eram maiores[6].
Afastaram o Timbó, chamaram o Mug, e ele foi e pegou a bateria. Um ano depois veio o Paulinho[7]. Aí começou o esquema do Paulinho, a pancada já não era a mesma. O pessoal que ele trouxe das marcações, principalmente do surdo de centração, de terceira, é uma pancada diferente. Porque a pancada da bateria da Portela é uma pancada 3×2. Então, ele trouxe esse pessoal já com os tímpanos viciados da Viradouro, que tinha a pancada dele, 3×1. Então, ficou um contraste[8].
Hoje, não! A bateria diminuiu o diâmetro das marcações. Quando chegou a época do Armando (Marçalzinho, filho do Mestre Marçal, que dirigiu a bateria da Portela em 2005), como haviam sumido muitas peças grandes, ele mandou fazer peças novas, só que com diâmetro menor, e a escola saiu com 10 primeiras, 10 segundas e 14 terceiras.
Hoje, está mudado, mas não é dizer que a bateria está ruim. A bateria está muito boa, só que aquela pancada forte não tem, devido às marcações que diminuíram o diâmetro, e estão saindo poucos componentes nas marcações. Antes a bateria da Portela era mais pesada.
Portelaweb: em todos estes anos do senhor na Portela, qual foi o seu momento mais marcante?
Bombeiro: O momento mais marcante para mim foi quando eu surgi como diretor. A Portela ensaiava no Mourisco. A bateria que ensaiava no Mourisco era a bateria do Cinco, e outra parte da bateria ensaiava no Campo Grande. Eu comandava a bateria do Campo Grande. Então, acontecia que a bateria do Cinco tinha o nome de “Os Dez de Ouro”, era o pessoal dele: Mug, Timbira, Fornalha, Mulato, Bandeira, Patinete. (N.: Numa pequena consulta do Portelaweb, Timbira, integrante da Velha Guarda Show da Portela, confirmou a existência da brincadeira, e indicou nomes anteriormente citados por Mestre Bombeiro. Na memória dos ritmistas portelenses, os “Dez de Ouro” estão limitados a seis nomes, sendo que alguns, como Fornalha e Patinete, são conhecidos apenas pelos apelidos).
Conclusão: eu comandava a outra parte da bateria, na qual eles botaram o apelido de “Os Dez de Lata”. E eles eram os “Dez de Ouro” porque constantemente estavam viajando, indo para São Paulo e outras viagens.
Chegou um sábado que eles tinham que viajar para São Paulo, e o Paulinho Cabelo Frito (Paulo Miranda, ex-diretor de harmonia e ex-presidente da Portela) liga para minha casa e fala assim: “Bombeiro, você pega os seus “Dez de Lata” e vai lá para o Mourisco hoje porque o pessoal do Cinco foi para São Paulo”. Eu perguntei, “e o Campo Grande?”. Daí ele falou: “Eu já falei com o Paulo Marinho, e ele já arrumou os componentes para ir para o Campo Grande cobrir vocês”. “Os Dez de Lata” era formado pelo meu filho César e o Djalma, que tocavam repique, o Macarrão, que batia uma caixa de responsa, o Índio, o Eurico; a marcação era com… (Bombeiro olha para cima, procura na memória, aperta um pouco os olhos, mas já não se recorda da formação completa dos “Dez de Lata”). Nós chegamos, e começou a encher a quadra. E o pessoal falou assim: “Que bateria é essa aí?”. Porque eles (os Dez de Ouro) eram presepeiros, eram palhaços, faziam muita palhaçada e o público já estava acostumado com a palhaçada deles. Só que o meu pessoal era uma bateria mais devagar, de lata, humilde, né?! (risos)
Os que estavam comigo eram os que já tocavam na bateria da Portela e conheciam a pancada, os que estavam com o Cinco eram os que ele trouxe de Padre Miguel, adaptados ao sistema dele. Então, a pancada dele não tinha nada a ver com a bateria da Portela. Quando a gente deu o esquenta, o Djalma ainda falou: “Bombeiro vai segurar uma bananosa porque os caras davam show”. Mas o pessoal gostou e tinha gente que falava: “Essa que é a pancada da Portela, olha só o suingue”. Então, quando teve um show para fazer em um clube lá no Leblon (não lembro o nome agora), o Carlinhos Maracanã virou e falou para Paulinho (N.: Mais uma vez, referência a Paulo Miranda) que queria essa bateria lá no show, lá no clube. O Paulinho falou: “O português gostou da bateria dos ‘Dez de Lata’ e quer que vocês vão lá!”. Então, nós fomos, e foi quando, de repente, Cinco ficou chateado comigo. Pouco já falava comigo. Fizeram um ensaio no Cassino de Bangu e o Carlinhos Maracanã me mandou levar a bateria para ensaiar lá. Com isso, os “Dez de Ouro” estavam ficando de lado e os “Dez de Lata” subindo, e, com isso, o meu conceito também foi subindo, e eu passei a ser conhecido.
Foi quando, de repente, de “Dez de Lata” a gente passou a ser “Dez de Bronze”. Eu nunca esperava ter uma oportunidade dessas, e a minha bateria subir assim. Eu agradeço ao Carlinhos Maracanã.
Portelaweb: Senhor Ubirajara, poderia nos contar a história do “Bombeiro”?
Bombeiro: Eu não tenho nada a ver nem com bombeiro de apagar incêndio, e nem com bombeiro hidráulico. Isso aí, esse “Bombeiro” foi um apelido que o falecido Natal me botou.
Eu me lembro que, quando a Portela estava lá embaixo para desfilar, e a bateria estava parada aqui na Portelinha, o pessoal estava fazendo greve. Que não ia descer enquanto não colocassem dois componentes que faziam parte da bateria, o Quincas e o Valter Teixeira, que eram marcadores. Nessa época a turma era muito unida. Então, foi quando eu cheguei à Portelinha para pegar o instrumento para a gente poder descer. Naquela época não tinha transporte (não tinha ônibus) para a gente poder descer para o desfile, cada um pegava as suas peças, vinha aqui para a estação de Madureira para pegar o trem, e ia todo mundo no trem fazendo aquele samba, aquele pagode, aquela batucada até a Central do Brasil.
Eu estava lá na Portelinha. Eu tô vendo aquele pessoal sentado ali na praça e a Portela lá embaixo. Foi aí que o “Seu” Natal chegou apavorado, perguntando para o Betinho o que estava acontecendo. E falou: “Betinho, vamos embora, o negócio é o seguinte: vamos descer. Bombeiro, pega logo o seu surdo”. (Bombeiro faz uma pequena imitação da voz e do jeito de falar do lendário Natal)
Daí eu tô na minha, e os caras falaram: “O ‘Seu’ Natal tá falando contigo”. Eu disse: “Não! Eu não sou o Bombeiro, não”. Porque realmente tinha um Bombeiro, o nome dele era Valdir; ele era do Corpo de Bombeiros. E nós dois, na época, parecíamos muito um com o outro, porque a gente cortava o cabelo tipo militar, baixinho, então era muito parecido. Esse Valdir, que era do Corpo de Bombeiros, batia o surdo, a furiosa. Naquela época, a Portela tinha a furiosa que era o surdo, e ele saía tocando aquele instrumento.
O Valdir, nesse dia, no carnaval, não estava. Foi quando o “Seu” Natal virou e falou: “Bombeiro, vamos lá, pega logo esse surdo e vamos descer”. Eu disse: “Eu não sou o Bombeiro, não. O Bombeiro é o Valdir”. Daí o Betinho virou e falou: “Você vai sair no lugar do Valdir então, pega a furiosa!”. Então eu peguei a furiosa e botei nas costas aquele surdo, e viemos descendo, o pessoal veio atrás zoando: “Ô Bombeiro, Ô Bombeiro!”.
Quando chegou o Sábado de Aleluia – a Portela sempre viajava para São Paulo –, eu cheguei para o “Seu” Natal e falei: “’Seu’ Natal, o senhor não leva a mal não, eu não sou o Bombeiro, não. Meu nome é Ubirajara. Se o senhor quiser chamar de Bira é mais fácil”. Ele disse: “Bombeiro, esse seu nome, Ubirajara, é muito complicado, é muito grande. Fica Bombeiro mesmo!”. Aí pegou. E, até hoje, o colega Alexandre, que toma conta do aparelho de som, fala assim: “Bombeiro, eu vou caguetar você, eu vou falar qual é o seu nome para todo mundo saber”.
Se chegar lá na Portela, e procurar pelo meu nome, ninguém conhece; mas se perguntar pelo Bombeiro todo mundo conhece, até a garotada. Não precisa falar o meu nome, ninguém precisa saber. Lá foi onde surgiu o apelido Bombeiro. Foi o Natal quem me batizou com esse nome.
Entrevista realizada por Adriano Fontes, Girleide Fontes e Lucia Pinto.
[1] Na ficha técnica publicada pela revista oficial da Portela em 1976 aparecem os seguintes nomes de diretores de bateria: Vice-Presidente – Joaquim Gomes Filho [Quincas]; Diretores – Dilmar Macieira (Cinco) e Bombeiro. No ano de 1972, a Revista oficial da Portela indica o “departamento de bateria” sendo formado por: a) Dilmar Macieira; b) Joaquim Gomes Filho; c) Paulo Marino. (Revista oficial da Portela, 1976 e Revista oficial da Portela 1972)
[2] Segundo Bombeiro, teria sido quando Marçal assumiu sozinho o comando da bateria, pois até então ele dividia o comando com Mestre Quincas. O Portel@web, em sua coluna sobre a bateria da Portela, assinada por Fábio Pavão e Marcello Sudoh, cita o ano de 1982 como sendo aquele em que Marçal se tornou isoladamente o mestre de bateria da escola (Pavão, Fábio e Sudoh Marcello, in: “Bateria da Portela” – http://www.portelaweb.com/vsegmentos.php?segCodigo=11 ).
[3] Até o fim do carnaval de 1986, quando Marçal se afasta, ou é afastado da bateria da Portela. http://familiamarcal.multiply.com/journal/item/5.
[4] Ainda segundo o Portel@web, Timbó assume a bateria da Portela em 1986, visando ao carnaval de 1987. Assim, Bombeiro retorna ao cargo de diretor de bateria juntamente com Timbó. Nesse ínterim, entre 1982 e 1986, teve os mencionados problemas de audição que o obrigaram a fazer uma cirurgia no ouvido.
[5] Esta observação de Mestre Bombeiro coincide amplamente com o texto de Pavão e Marcello Sudoh para o Portel@web: “Em 1971, Mestre Cinco foi trazido da Unidos de Padre Miguel para a Portela, tendo assumido o desfile de 1972. Junto com ele veio um grupo de ritmistas que impuseram uma batida diferente à escola. Não houve descaracterização total, mas a bateria passou a bater diferente”. (idem , ibidem)
[6] Em 1995, a direção de bateria da Portela estava sob o comando de Mestre Mug. A saída de Timbó, portanto, se deu após o carnaval de 1994.
[7] Paulinho Botelho (Caprichosos, Viradouro e mais recentemente Beija-Flor) dirigiu a bateria da Portela durante os carnavais de 1996 e 1997. No carnaval de 1998, o comando voltaria ao mestre Mug da Portela.
[8] Recorrendo mais uma vez ao especial “Bateria da Portela” no site Portel@web, encontramos algo que, talvez, ajude a compreender o que Mestre Bombeiro procurava explicar usando o termo “batida 3X2” (que neste caso nada tem a ver com compasso): “A “Tabajara” portelense conservava como característica básica o surdo de terceira com o couro mais frouxo e a batida característica criada na década de 40 por Sula. O couro mais frouxo deixava a afinação da terceira da Portela mais grave que a das outras escolas. Isso mudou nos últimos anos. Mas a batida com 4 toques curtos e 3 toques mais espaçados segue sendo a marca da escola”. (idem, ibidem).