Chatim
CHATIM
Tompson José Ramos, mais conhecido como Chatim, é presença certa na vasta galeria de grandes sambistas portelenses. Nascido em 7 de setembro de 1915, Chatim, juntamente com seu irmão mais velho Bibi, foram dois importantes nomes dos primeiros anos da Portela. Com seus sambas, a Portela conquistou campeonatos, aumentou sua legião de fãs e se tornou ainda maior e mais importante.
O sambista de Campinho
Quando jovem, Chatim morava em Campinho, próximo à rua Dona Clara. Essa localidade é muito importante para o samba da grande região de Madureira. Foi na antiga estação Dona Clara, atual Praça do Patriarca, que desembarcou grande parte dos primeiros sambistas que chegaram do Centro da cidade. Grandes blocos e até escolas de samba surgiram na localidade, e certamente serviram de inspiração para o jovem Chatim, que demonstraria seu talento na Portela, do vizinho bairro de Oswaldo Cruz.
Duas vezes campeão
A Portela desfilou duas vezes com sambas compostos por Chatim, e saiu vitoriosa em ambas as oportunidades.
Em 1941, com “Dez anos de glória”, a Portela presenciava, estarrecida, Paulo da Portela brigar com seus amigos e deixar a escola ainda na concentração. Apesar dos problemas, a escola enfrentou todas as dificuldades e sagrou-se campeã, impulsionada pelo samba de Chatim e de seu irmão Bibi. Em 1951 – “A volta do filho pródigo” – apesar da divisão no mundo do samba, a Portela, com um samba de Chatim e Josias, mais uma vez venceria um carnaval.
Na Portela dos primeiros anos, antes da popularidade que o samba ganharia anos mais tarde, Chatim era uma das figuras de maior expressão.
Entre suas duas paixões
Com a doença de sua esposa, Chatim abandonou a Portela para se dedicar integralmente a sua amada. Anos mais tarde, mudou-se para Pilares, exerceu a profissão de bombeiro hidráulico da UERJ. Foram anos afastados de sua outra paixão, a Portela, mas esse afastamento não seria definitivo. Após a morte de sua esposa, apesar da dor, Chatim retornava para sua escola.
Na Velha Guarda Show
Chatim retornou à Portela através da Velha Guarda Show. Foi no final dos anos 80, atendendo a um pedido de Monarco e Manacéa. A partir de então, era figura sempre presente nos shows do grupo. Participou do conjunto até seus últimos dias, e deixou seus sambas na trilha musical da velha guarda, como “Mulher ingrata”, “Nega danada” e muitos outros.
Os sucessos
Entre os sucessos do grande compositor Chatim, destaca-se “Minha vontade”, gravado por Beth Carvalho e que fez parte da trilha sonora da novela “Pai Herói”, da Rede Globo. “O verdadeiro amor”, “Disse-me-disse”, “Quando vem rompendo a aurora”, “Portela querida”, “Bahia, oh! Bahia”, “Aquela mulher”, ” Feliz eu vivo no morro” – esta última em parceria com Pernambuco e Josias – e os já mencionados “Mulher ingrata” e “Nega danada” são outros sambas dignos de registro.
Um país sem memória
Chatim faleceu em 10 de maio de 1991. Em vida, foi compositor e diretor de harmonia de sua Portela. Assim como as glórias da escola nos anos de 1941 e 1951 jamais serão esquecidas, as obras de Chatim estão vivas nas gravações de seus amigos da velha guarda e de outros consagrados intérpretes. Mesmo entre aqueles que acompanham o dia-a-dia do samba, o nome de Chatim pode passar despercebido. Diante dos inúmeros mestres portelenses, Chatim corre o risco de ser ignorado.
Num país sem memória e que ignora sua história, poucas são as personalidades que conseguem ser lembradas após a morte. Independentemente disso, Chatim é mais uma figura que jamais pode ser esquecida. A cultura brasileira, sobretudo a cultura popular do Rio de Janeiro, precisa valorizar seus grandes nomes.
O samba, de uma maneira geral, precisa exaltar seus artistas, fugindo da ignorância coletiva e da falta de memória que assola a nação.
Pesquisa e criação de texto: Fábio Pavão
Bibliografia:
CABRAL, Sérgio. As escolas de samba do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro, Ed. Lumiar, 1996.
VARGENS, joão Baptista M & MONTE, Carlos. A Velha-Guarda da Portela, Rio de Janeiro, Manati,2001.