Chico Santanna
CHICO SANTANNA
Francisco Santana, ou simplesmente Chico Santana, nasceu no dia 22 de setembro de 1911, em Campo Grande, Zona Oeste do Rio de Janeiro. Mais do que qualquer outro compositor, Chico Santana teve a sensibilidade de transformar em música o jeito portelense de ser, traduzindo em belas canções seu amor pelas cores de sua escola de coração. Faleceu no dia 26 de março de 1988, aos 76 anos, deixando seu nome eternamente marcado na galeria dos grandes sambistas portelenses, sendo considerado por muitos o compositor símbolo da gloriosa Águia de Madureira.
O bamba dos móveis
Quando deixou a Zona Oeste e mudou-se para Oswaldo Cruz, ainda muito jovem, Chico não demorou a se aproximar dos grandes nomes da Portela. A identificação com o samba tinha sido imediata. Contudo, da mesma forma que os demais sambistas de Oswaldo Cruz, Chico precisava trabalhar para sobreviver, e a vocação para a música teve que ficar, inevitavelmente, para um segundo plano.
Assim como outros portelenses famosos, Chico era lustrador. Trabalhava como ajudante em uma fábrica de móveis, lustrando e dando os retoques finais às peças que sofriam algum tipo de avaria durante o transporte. Teve quatro filhos em seus dois primeiros casamentos.
“Estamos velhos, mas ainda não morremos”
Chico Santana deixou sua voz em trabalhos do amigo Candeia. Contudo, era com seus amigos da velha guarda da Portela que Chico tinha lugar de destaque. Participou do primeiro LP do grupo, em 1970, e permaneceu até seus últimos dias entre seus amigos. Muito querido por todos, Chico foi o autor do hino da velha guarda, mostrando em forma de poesia que idade não é problema quando se tem talento e força de vontade.
Hino da velha guarda
“A velha-guarda da Portela vem saudar
Com esse samba para a mocidade brincar
Estamos aí, como vocês estão vendo
Estamos velhos, mas ainda não morremos
Enquanto há vida há esperança
Diz o velho ditado, quem espera sempre alcança
Nosso teor, não é humilhar a ninguém
Nós só queremos mostrar o que a Velha-Guarda tem”
“Avante Portelense para a vitória!”
Se Chico soube retratar o espírito da velha guarda, também mostrou como ninguém a vocação de sua escola para a vitória e para as conquistas. É de sua autoria o belo hino oficial da Portela, que até hoje abre cada noite de samba no Portelão. Mais uma vez, o compositor símbolo da azul-e-branco conseguia traduzir o orgulho dos portelenses em uma bela canção.
Hino da Portela
“Portela suas cores tem
Na bandeira do Brasil
E no céu também
Avante portelense para a vitória
Não vê que o teu passado é cheio de glória
Eu sinto saudade
Desperta oh! grande mocidade
As suas cores são lindas
Seus valores não têm fim
Portela querida
És tudo na vida pra mim.”
“Vitória é banalidade”
Em outra obra sobre a Portela, Chico demonstrava a vaidade que todo portelense tem de sua história. Em “Vaidade de um sambista”, Chico Santana mostra que a Portela era, realmente, uma escola especial, e que os portelenses nutriam um sentimento único em relação à escola. Um amor e um carinho peculiares, capazes de tornar a própria vitória, objetivo máximo de uma agremiação, em banalidade, perto da grandiosidade desse amor.
Os grandes sucessos
Chico criou alguns sucessos que marcaram a música popular brasileira. Entre eles destaca-se “Saco de Feijão”, gravado por Beth Carvalho, que em pouco tempo estourou nas paradas de sucesso, levando a poesia de Oswaldo Cruz para o topo das paradas de sucesso por vários meses. É de sua autoria, também, alguns dos principais sucessos da Velha Guarda da Portela, como “Lenço”, “Desdita”, “Vaidade de um sambista”, “Noite que tudo esconde”, “Vida de fidalga” (em parceria com Alvaiade) e “Corri pra ver” (em parceria com Casquinha e Monarco).
“Portela querida, és tudo na vida pra mim”
Poucas pessoas souberam retratar a arte portelense como Chico Santana. Não por acaso, são de sua autoria os hinos da velha guarda e, mais importante, o próprio hino da escola. Por musicar com fidelidade o brilho que emana da Portela, Chico Santana é considerado por muitos o compositor símbolo da escola, e seus sucessos ganharam, na voz de grandes intérpretes, as paradas de sucesso.
O azul da Portela está na bandeira do Brasil, está no céu também. Chico fincou sua obra na história de Oswaldo Cruz, entrando para a galeria dos grande artistas desse bairro que transpira notas musicais, ao lado de Manacéa, Candeia, Paulo da Portela e muitos outros mestres.
Chico nos ensinou a olhar nosso passado de glórias, mostrando aos jovens que o futuro pode ser ainda mais bonito. Chico nos ensinou que os jovens não precisam temer os desafios. Mostrou que, inspirado em nossas conquistas, podemos escrever um futuro ainda mais vitorioso. Desperta Mocidade!
Chico mostrou que nossos valores não têm fim. Cantou a sua Portela querida, a Portela que foi tudo em sua vida, e até hoje suas notas musicais são ouvidas no Portelão.
Os grandes artistas são imortais. Os autores passam, mas as grandes obras ficam e continuam encantando as futuras gerações. Diante da eternidade da arte, a própria vida é banalidade.
Tudo pronto. Bateria posicionada. Mais um ensaio vai começar. A bela canção entoa na quadra. Quem nunca ouviu, logo se entusiasma e procura aprender. Quem já está acostumado, canta com prazer e emoção. Para a velha guarda, é momento de saudade e de lembrar do velho amigo.
Obrigado, Chico Santana.
Pesquisa e criação de texto: Fábio Pavão
Bibliografia:
CABRAL, Sérgio. As escolas de samba do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro, Ed. Lumiar, 1996.
VARGENS, João Baptista M & MONTE, Carlos. A Velha-Guarda da Portela, Rio de Janeiro, Manati, 2001.