24/11/2024
Bateria

Tabajara em desfile

Embora conte com o providencial auxílio do sistema de som, a bateria, com aproximadamente 280 ritmistas e vários auxiliares, precisa sustentar o desfile durante toda a extensão da avenida.

Atrás do “coração da escola”, vêm o carro de som e os intérpretes. A própria direção do vento durante o desfile, que geralmente ocorre no sentido Catumbi-Presidente Vargas, pode atrapalhar a perfeita sincronia entre o carro de som e a bateria.

Outro detalhe importante é o tamanho da bateria na avenida. Quando o número de fileiras horizontais é muito grande, a bateria, ao se locomover, recebe o retorno das caixas de som que estão na pista de forma diferente. Ela ouve o som da própria bateria, da caixa mais próxima e o eco da caixa logo à frente ou logo atrás. A mistura desse eco, do som original e do som das caixas de som pode provocar o atravessamento da bateria.

Por isso, alguns mestres optam por desfilar com 250 ritmistas, reduzindo os corredores horizontais e o comprimento da bateria na avenida. Assim, a bateria não elimina, mas minimiza o efeito do eco.

Enquanto os primeiros setores da escola estão entrando na avenida, a bateria fica situada no primeiro box, na Rua Benedito Hipólito. Sua entrada na pista de desfile ocorre numa posição pré-determinada, de acordo com o organograma de desfile.

Segundo recuo

Para quem assiste ao desfile das frisas, arquibancadas ou camarotes, a passagem da bateria se constitui no momento mais animado do desfile. É quando todos cantam, dançam e agitam os braços; é quando a alegria dos componentes atinge, também, os espectadores.

Entre os setores 9 e 11, na altura da Rua Salvador de Sá, a bateria faz o delicado movimento para entrar no segundo box. Esse momento é, talvez, o mais complicado do desfile, podendo comprometer a harmonia durante o restante da apresentação.

Quando a bateria abandona a avenida para entrar no segundo recuo, os ritmistas deixam de ouvir o som direto das caixas e passam a ouvir um eco muito forte provocado pelo som da bateria que bate no alambrado – no fundo do recuo – e volta para ela. O som que vem do carro de som também muda de direção.

O perigo de atravessamento se agrava pelo fato de os instrumentos guias – que carregam microfones – perderem, por segundos, o contato de áudio com o carro de som. Um momento muito difícil para a bateria. Mas é dessa posição que ela garante o ritmo para os últimos setores.

Em compensação é um momento de “descanso”, porque ali a bateria não se locomove, facilitando a batida. Os instrumentos recebem uma nova afinação e os ritmistas podem beber água.

Geralmente, no final, a bateria deixa o segundo box e se encaminha para o fim de desfile, recebendo calorosos aplausos do público na Praça da Apoteose.

Quatro fases

Já os desfiles na Presidente Vargas marcaram quatro fases para as baterias:

1) Na primeira fase, as baterias não paravam em nenhum local da avenida. As escolas eram pequenas e não havia a necessidade da manobra. Para as baterias, essa fase se caracteriza pelo início da diferenciação das batidas. Estávamos na década de 40 – o primeiro desfile na Presidente Vargas foi em 1946 – e as escolas possuíam cerca de 60 ritmistas.

2) Na segunda fase, as baterias e toda a escola passavam a subir num tablado para a apresentação. Nesse tablado, as baterias paravam por alguns minutos e seguiam em frente. Nessa fase, algumas baterias já são identificadas por suas batidas. Estamos na década de 50 – o primeiro desfile em tablado foi em 1953 – e o número de ritmistas já chega a 100.

3) Na terceira fase, as baterias passavam a parar na avenida, mas ainda não existia o recuo. Elas paravam em frente à cabine de jurados e tomavam parte da pista, o que obrigava a escola a se espremer ao passar pelo local. Essa é a década de 60, quando grande parte das baterias já é identificada pela sua forma de bater. Algumas baterias já desfilam com 300 componentes, outras com 120. Depois de ser transferido de volta para a Rio Branco (1957), o desfile retorna à Presidente Vargas em 1963, mas sem o tablado.

4) Na quarta fase, as baterias já entravam no recuo, que ficava no lado direito de quem vai da Candelária para a Praça Onze, na altura das ruas Carmo Neto e Laura de Araújo. Depois mudou para a altura da Rua Camerino, mas do lado esquerdo. Essa é a década de 70. O número de ritmistas para todas as escolas ficava entre 220 e 400. A aceleração do samba começou nesse período.

Pesquisa e criação de texto: Fábio Pavão e Marcello Sudoh

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