16/05/2024
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Antonio Caetano

ANTONIO CAETANO

Antônio Caetano é uma personalidade fundamental para a história da Portela e do carnaval carioca.

Nascido em 10 de setembro de 1900, filho de João Manoel Caetano e Raquel da Silva Caetano, o jovem Antônio da Silva Caetano foi, talvez, o principal responsável pelos rumos que nosso grande espetáculo seguiria, inventando traços e códigos que, anos mais tarde, tornar-se-iam característicos das escolas de samba. Entre os grandes mestres responsáveis pelo surgimento de nossa expressão cultural maior, Antônio Caetano merece lugar de destaque. Um nome que merece ser eternamente reverenciado.

 

Caetano e sua Diva

Morador de Quintino, quis o destino que Caetano conhecesse Diva, jovem moradora de Oswaldo Cruz, e passasse a viver intensamente a vida do bairro.

Era o início da década de 20. Milhares de pessoas deixavam o centro da cidade e, graças ao trem, intensificavam a ocupação dos subúrbios. Um grande contingente de pessoas provenientes das zonas rurais do antigo Estado do Rio ou do interior de Minas Gerais e São Paulo chegava para a região de Oswaldo Cruz e Madureira, trazendo consigo as manifestações culturais que formariam o aspecto peculiar da localidade, um produto híbrido do urbano e do rural. Caetano, ou simplesmente “Pelado” para os amigos mais íntimos, presenciava todas as transformações por que o bairro estava passando.

 

O artista da Marinha

Através da Marinha brasileira, Antônio Caetano conheceu várias partes do mundo. O contato com diferentes culturas e povos foi fundamental na formação do rapaz, uma oportunidade que raríssimos jovens nos distantes subúrbios cariocas das primeiras décadas do século XX puderam vivenciar. A experiência aflorou seus dotes artísticos, e logo seu talento se revelaria, permitindo a Caetano assumir o posto de desenhista da Imprensa Naval. Sabia que seu futuro estava sendo traçado, mas certamente não imaginava que seu talento teria dimensões muito maiores, pois influenciaria os rumos do próprio carnaval carioca.

 

Caetano da Portela

Há muito, Caetano já participava da folia carnavalesca. Integrava, em Quintino, os ranchos Felismina Minha Nega e Felisberto Minha Branca. Participou do Bloco Baianinhas de Oswaldo Cruz e por iniciativa sua fundou, ao lado de Paulo Benjamim de Oliveira e Antônio Rufino dos Reis, o Conjunto Carnavalesco de Oswaldo Cruz, o primeiro nome da nossa querida Portela. Antônio Caetano foi o primeiro secretário da nossa escola. Formou, juntamente com Paulo e Rufino, o triunvirato que dirigiu o Conjunto Carnavalesco de Oswaldo Cruz em seus primeiros anos. Aliás, muito do que a Portela é hoje, devemos ao perfeito entrosamento desses três jovens que se complementavam mutuamente nas diversas funções.

 

 

O artista do grupo

Os grandes símbolos que a Portela preserva até hoje foram todos concebidos pelo talento de Antônio Caetano.

É de concepção do artista a atual bandeira da Portela. Segundo depoimento dado às pesquisadoras Lígia Santos e Marília Barboza, Caetano teria se inspirado na bandeira japonesa do sol nascente. As cores azul e branca foram adotadas graças ao manto de Nossa Senhora da Conceição, padroeira da escola. Idealizou como símbolo, por acreditar que se tratava da ave que voa mais alto, a águia, que até hoje é amada por todos os portelenses.

Assim, é graças à genialidade de Caetano que temos hoje nossa bandeira, temos orgulho de nossas cores azul e branco, e idolatramos a Águia.

 

O primeiro carnavalesco

Inspirado nos espetáculo dos ranchos, Caetano traz para as escolas de samba a representação plástica dos temas. Com esse objetivo, usa sua ilimitada criatividade para desenhar fantasias e adereços, idealizando a primeira alegoria da história das escolas de samba. 

Foram de sua criação os primeiros enredos que a Portela apresentou em desfiles, sempre procurando maneiras inovadoras de apresentá-los. Entre elas, merece destaque o rústico globo terrestre giratório no enredo “O samba dominando o mundo”, que consolidou o primeiro título da história da Portela, em 1935.

Caetano, enfim, foi o precursor do nosso moderno espetáculo. Foi a partir das primeiras criações do artista portelense que o carnaval se desenvolveu. Pelas mãos de Caetano, muitos materiais passaram a fazer parte do quotidiano de um barracão de escola de samba. Por tudo isso, é considerado o primeiro carnavalesco da história do carnaval brasileiro.

 

O compositor Caetano

Além de idealizar os enredos e trabalhar no barracão, Caetano também foi um exímio compositor. Sob uma mangueira, por ele próprio imortalizada em uma pintura, Antônio Caetano compôs “O quanto a paixão é capaz”, um dos três primeiros sambas da história da Portela. Em 1929, para o primeiro concurso de samba, ocorrido na casa de Zé Espinguela, no Engenho de Dentro, Caetano compôs “O Sabiá”. Sempre à frente de seu tempo, o samba que Caetano apresentou no concurso tinha como peculiaridade o fato de apresentar uma segunda parte, fato bastante ousado para a época. 

Quando a Portela foi campeã em 1935, Caetano não foi apenas o responsável pela parte artística do desfile. É de sua autoria o samba “Alegria tu terás”, uma das duas composições que a Portela levou para a Praça XI naquele ano. Caetano, mais do que ninguém, foi um artista completo.

 

A briga com o amigo Paulo

“Cabo eleitoral” de Paulo da Portela na disputa pelo título de cidadão-samba, Caetano se afastou de sua escola em 1937, mas todos os anos acompanhava o trabalho de seus seguidores. Em 1941 viu, muito emocionado, diversas criações suas serem revividas quando a Portela contou sua própria história nos dez anos de desfiles, e nesse ano a escola conseguiria o seu terceiro título e abriria os “sete anos de glória”, ou seja, a seqüência ininterrupta de sete títulos que obteve entre 1941 e 1947.

 

Caetano do Império

Afastado há alguns anos do carnaval, Caetano aceitou participar em 1946 dos preparativos da escola de samba Prazer da Serrinha, liderada pelo polêmico Alfredo Costa. A chegada de Caetano animou a comunidade do Morro da Serrinha, que acreditava que o reconhecido talento de Caetano poderia fazer a escola ganhar seu primeiro título. O enredo idealizado seria “Conferência de São Francisco”, que Caetano havia idealizado para a Portela em parceria com Lino Manuel dos Reis.

O samba, de autoria de Mano Décio da Viola e Silas de Oliveira, deixou Caetano bastante animado. Contudo, na hora do desfile, seu Alfredo determinou que fosse cantado o samba de terreiro “Alto da Colina”, o que deixou os serranos bastante chateados.

O incidente acabou motivando o movimento que culminou com a fundação do Império Serrano. Caetano participou do surgimento da nova escola da Serrinha e de suas mãos saíram os traços da famosa bandeira imperial.

Desenhando as bandeiras da Portela e do Império Serrano, duas das mais tradicionais escolas de samba do Rio, Caetano mostrava que estava muito além das tolas rivalidades que dividiam o mundo do samba.

 

Ao lado dos grandes mestres

Artista, dirigente, fundador, carnavalesco, compositor, criador de nosso símbolo maior, por incrível que pareça isso é pouco para definir a importância de Antônio Caetano para a Portela e para o carnaval brasileiro. Suas contribuições foram muito além de nossa escola. Caetano é um dos principais responsáveis pela evolução por que as escolas de samba passaram em seus primeiros anos, e a ele devemos muito do que hoje consideramos típicos de uma escola de samba.

Quando lembramos dos pioneiros do nosso carnaval, lembramos de Cartola, Ismael Silva, Paulo da Portela, Heitor dos Prazeres, Carlos Cachaça e muitos outros artistas famosos. Perto deles, Antônio Caetano figura quase anônimo, mas tem a mesma importância – se não tiver mais – que todos esses mestres reverenciados como precursores de nosso carnaval.

 

Pesquisa e criação de texto: Fábio Pavão

Bibliografia:

CABRAL, Sérgio. As escolas de samba do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro, Ed. Lumiar, 1996.
CANDEIA FILHO, Antônio & ARAÚJO, Isnard. Escola de samba – árvore que esqueceu a raiz. Rio de Janeiro, Ed. Lidador, 1978.

JÓRIO, Amaury & ARAÚJO, Hiran. Escolas de samba em desfile – vida, paixão e sorte. Rio de Janeiro, Poligráfica ed., 1969.

SILVA, Marília T. Barboza & SANTOS, Lygia. Paulo da Portela – traço de união entre duas culturas. Rio de Janeiro, Funarte, 1979.

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