18/05/2024
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Casquinha

Casquinha

CD de 2001

Otto Henrique Trept, conhecido no mundo do samba como Casquinha, é considerado o maior partideiro ainda vivo. Filho de alemão com mulata, Casquinha traz no sangue um exemplo das diversas misturas raciais que formaram o povo brasileiro. Grande parceiro de Candeia, antigo integrante do Partido em Cinco, gravado por nomes como Beth Carvalho, Paulinho da Viola, Zeca Pagodinho e outros, membro do conjunto da velha guarda desde sua fundação, finalmente Casquinha lança seu primeiro CD solo.

 

Portelaweb: Como o senhor chegou à Portela?

Casquinha: Olha, eu sou radicado em Oswaldo Cruz. Eu morei em Ricardo de Albuquerque, nasci lá, mas vim para Oswaldo Cruz com 18 anos. Mas meu caso era o futebol, eu joguei futebol, só depois de rapaz, lá pelos vinte e oito anos que o Candeia me trouxe para a Portela. E aqui conheci o Paulo. Sabia que ele era lustrador, via-o trabalhando, mas não tinha intimidade com ele. Era aquilo de cumprimentar e tal.

 

Portelaweb: E quando o senhor entrou para a ala dos compositores?

Casquinha: Eu entrei na ala dos compositores em 1948. Ganhei um samba-enredo, “Brasil Pantheon de Glórias”, mas não ganhei dinheiro, já faz muitos anos, em 1959. Eu também me afastei um tempo, nunca fui muito assíduo no samba não.

E agora, passado esse tempo todo, eu estou fazendo um CD. Uma gravadora chamada Lua, de São Paulo, me chamou para fazer um CD solo.

É isso aí, sou Portela desde garoto, nunca tive outra escola.

 

Portelaweb: Esse é o primeiro CD do senhor?

Casquinha: É o meu primeiro CD. Eu tenho várias gravações esporádicas, tenho mais de trinta gravações. Vem uma num disco, outra no outro. Gente que pegava doze gravações de cada lugar e fazia um CD. Eu já gravei também no Partido em Cinco, que era eu, Candeia, Picolino, Jorge do Violão e outros. Com o Partido em Cinco eu já gravei umas seis vezes.

 

Portelaweb: Qual lembrança o senhor tem de Paulo da Portela?

Casquinha: Uma lembrança marcante foi o dia em que ele morreu. Eu ia trabalhar, mas aí, de cima da ponte, eu vi uma aglomeração onde ele morava, ali perto da estação de Oswaldo Cruz. Aí, eu não gostava muito de trabalhar não, sabe… (risos). Fui ver o que estava acontecendo e era o Paulo que tinha morrido. Aí fui ao enterro.

 

Portelaweb: E foi um dia muito triste para Oswaldo Cruz, não é verdade?

Casquinha: Foi, de fato foi, o Paulo foi um dos fundadores da escola. Eu ainda não tinha idade para isso, mas todos contam e é verdade. Ele era um camarada sério.

 

Portelaweb: E como o senhor entrou para o conjunto da velha guarda da Portela, foi desde a fundação?

Casquinha: Foi sim, quando fizeram o conjunto eu era compositor da Portela. O Paulinho da Viola teve a idéia de criar a Velha Guarda da Portela, porque o pessoal ainda não tinha gravado. E eu já tinha gravado, eu sou parceiro do Paulinho, já tinha gravado com ele o samba “O Recado”. Aí ele me convidou e eu fui tocar surdo no disco da velha guarda. Mas eu não tinha música no disco não, só batia o surdo.

 

Portelaweb: O último CD da Velha Guarda, gravado junto com a Marisa Monte, fez um sucesso muito grande entre os jovens. O que o senhor acha disso?

Casquinha: Tem o jovem que atualmente vive na música popular brasileira, aí gosta da gente, gosta da velha guarda, independente de pertencer à Portela.

 

Portelaweb: O que a Portela representa para o senhor?

Casquinha: Tudo, pra mim a Portela é tudo. Depois de Deus e de minha família é a Portela.

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