27/04/2024
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Clóvis Bornay

Vencer concursos de fantasia nunca foi novidade para Clóvis Bornay, portelense que, aos 89 anos, é sinônimo do carnaval carioca e símbolo da alegria da Cidade Maravilhosa. Caçula de doze irmãos, Clóvis Bornay nasceu em 1916, em Nova Friburgo (município da região serrana do Rio de Janeiro), filho de mãe espanhola e pai suíço. Em 1928, ainda menino e freqüentador dos bailes do Fluminense Futebol Clube, manifestou uma grande vocação para folião. Em 1937, inspirado nos bailes de máscaras dos carnavais de Veneza, convenceu o então diretor do Theatro Municipal do Rio de Janeiro, Silvio Piergilli, a instituir um Baile de Gala em que fantasias de luxo seriam premiadas. Diante dos deslumbrados membros do júri do concurso, Clóvis se apresentou de “Príncipe Hindu” e ganhou o primeiro lugar.

Juventude, beleza e disposição não eram suficientes. Bom gosto e criatividade igualmente contavam pontos. Mais tarde, as fantasias foram agrupadas por categoria: luxo e originalidade. Em 1953, com um original Arlequim, dividiu o prêmio com Zacharias do Rego Monteiro, que vestia um de seus belíssimos e tradicionais pierrôs. O maior concorrente de Bornay no Municipal era, entretanto, o costureiro baiano Evandro de Castro Lima. Outros artistas como Jésus Henrique, Mauro Rosas, Wilza Carla, Marlene Paiva, Guilherme Guimarães, Flavio Rocha, Marcos Varella e tantos mais criaram, confeccionaram ou vestiram fantasias que eram verdadeiras jóias.

O baile do Theatro Municipal resistiu até 1972. A platéia era coberta por uma estrutura de madeira revestida de compensados e o piso ficava na altura dos camarotes. Ali brincavam cerca de oito mil foliões. No dia seguinte à festa noturna, acontecia o baile infantil, quando também era realizado um concurso de fantasias. A partir de 1963, as escolas assumem a posição de maior atração do carnaval carioca e, em 1965 – Carnaval do 4º Centenário – Clóvis Bornay surge triunfal fantasiado de Estácio de Sá, o fundador da cidade. Os bailes de fantasia do Iate Clube (“Baile do Havaí”), do hotel Copacabana Palace e os concursos de fantasia do Clube Federal, no Leblon, e do Clube Monte Líbano, na Lagoa, ainda resistiram por algum tempo.

Depois de ter recebido a distinção de “hors-concours”, que lhe concedeu o direito de se apresentar em qualquer concurso de fantasias sem ser julgado, Clóvis Bornay levou sua arte para a Passarela do Samba. Ele foi o carnavalesco da Portela em 1969 e 1970 e da Mocidade Independente em 1972 e 1973. O mais famoso destaque do carnaval carioca desfilou na Portela vários anos como tal; a partir de então as fantasias de luxo foram para o asfalto, apresentadas por artistas e figuras populares da cidade. Em 1996 Clóvis Bornay recebeu da Assembléia Legislativa a Medalha Tiradentes, honraria concedida a personalidades que, de alguma forma, tenham prestado serviços ao Estado do Rio de Janeiro ou ao Brasil. No carnaval de 2003 e 2004, com seu jeito sempre elegante, Clóvis Bornay veio à frente da comissão de frente da Portela, apresentando a escola.

Museólogo – trabalhou no Museu Histórico nacional e em outras instituições culturais – morador da Prado Júnior, em Copacabana, esta doce figura é uma atração diária da paisagem carioca. Suas fantasias, verdadeiras obras de arte, são expostas constantemente pelo Brasil, e algumas já pertencem ao acervo de museus da Europa e dos Estados Unidos.

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