LP de 1962 – II
LP de 1962 - II
Samba no Chão: Portela Campeã 1962
Áudio do LP
Produzido em agosto de 1962 pela recém fundada gravadora “Albatroz”, este trabalho fonográfico se enquadra na lista de LPs raros referentes à agremiação de Oswaldo Cruz.
“Samba no Chão: Portela campeã 62” traz 14 faixas, sendo sete da Portela e sete do Império Serrano. A Portela havia sido campeã naquele ano, com o enredo “Rugendas ou Viagens Pitorescas do Brasil”. O samba foi composto por Zé Ketti, Batatinha, Carlos Elias e Marques Balbino.
Sob a direção musical do intérprete de sambas, Arthur Montenegro, “Samba no Chão: Portela campeã 62” colocou a gravadora debutante “Albatroz” em confronto direto com a gravadora “Copacabana”, que também havia lançado, em 1962, um LP com sambas portelenses. As duas obras disputaram o mercado de vendas e foi um grande presente para a torcida da Portela, que pôde comemorar a vitória da Escola durante todo o ano ouvido dois ótimos longplays.
A gravadora optou por usar na capa uma foto panorâmica do desfile da campeã. Contudo, na contra-capa, a foto dedicada ao vice-campeão, Império Serrano, curiosamente, não é a do desfile de 1961, nem de 1962, pois a fantasia dos ritmistas não é a mesma usada nos citados anos. A cena foi fotografada no Aterro do Flamengo.
LADO A
Com pouco mais de 19 minutos, o Lado A deste vinil traz na abertura o samba “Jaqueira da Portela”, de Zé Ketti. Compositor veterano da escola, Zé Ketti estava afastado da agremiação e retorna em 1961, vencendo a disputa de sambas-enredo para o Carnaval de 1962. “Jaqueira da Portela” se inspira na árvore que ficava na antiga sede da Escola, localizada na Estrada do Portela 412. Este samba é cantado no LP com côro masculino e feminino, surdo, tamborim, pandeiro, cuíca, reco-reco, prato e faca.
“O môlho é samba”, de Waldir 59, segue o modelo da faixa anterior, com destaque para a cuíca que inicia a batucada e um surdo de terceira dando um balanço portelense à composição. Na letra, Waldir 59 exalta o samba, denominado-o de “prato bem brasileiro”. As cabrochas “remexendo com as cadeiras” são a sobremesa que acompanha a iguaria nacional.
A faixa 3, “Que mulher”, retoma um tema muito comum nos sambas dos anos 60: a mulher “barraqueira” que dá ao sambista muita preocupação. O arranjo para essa composição, de Thompson José Ramos, o famoso “Chatim”, e Ary Guarda, começa com frigideira e côro masculino. Ao desenrolar do tema, entra o côro de pastoras. Quando este LP foi gravado, Chatim já havia vencido dois sambas-enredo na escola, em 1941 e 1951, e Ary Guarda havia sido recém admitido na Ala de Compositores da Portela.
Claudomiro José Rodrigues, o “Picolino da Portela”, é o autor de “Lenços Brancos”, a quarta faixa do LP. Este samba foi um dos grandes sucessos de Picolino, no início da década de 60, principalmente na voz de Eliana Pitman. O tema da composição são os lenços brancos acenados na partida de quem se ama. Apesar de ter sido aceito na Ala de Compositores da Escola na década de 50, e possuir 4 LPs gravados, um com o grupo “Mensageiros do Samba da Portela”, atualmente Picolino é um dos sambistas portelenses pouco cantados pela agremiação.
“Sai de mim”, de Ary Guarda, é a quinta faixa deste histórico trabalho. A composição é uma resposta do sambista às críticas da ex-mulher. A canção é executada em côro misto, masculino e feminino, e lembra um ditado famoso, “Quem pode, pode. Quem não pode, se sacode”.
Lindo côro de pastoras abre o samba, “Interesseira”, de Casquinha e Bubu, sexta faixa do LP. Na década de 60, Casquinha ou Henrique Trepte, o “center-half da Portela”, já era compositor consagrado na Escola. Jorge de Oliveira, o Bubu, havia emplacado um samba-enredo na agremiação – Brasil, Phanteón de Glórias (1959) – e também era compositor reconhecido pela comunidade. A composição trata do sambista que foi deixado pela mulher e arrumou outra melhor para seu lugar. Casquinha aparece na faixa fazendo “contra voz” ao côro feminino.
Em “Portela Feliz”, Zé Ketti exalta os valores da Escola neste belo samba composto em 1960 e que, até hoje, é entoado nas rodas de samba em Oswaldo Cruz e Madureira. Esta faixa encerra as sete obras dedicadas à campeã de 1962, Portela.
No outro lado do LP, o sambista interessado pode apreciar belas obras do GRES Império Serrano.
A capa deste LP foi gentilmente cedida pelo colecionador Alexandre Medeiros, mais conhecido como “Alexandre da Comissão”, apelido que recebeu por ter desfilado por vários anos na Comissão de Frente da Imperatriz Leopoldinense. Nosso agradecimento!
Pesquisa e texto: Marcello Sudoh
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