LP de 1965
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LP de 1965
Escola de Samba Portela
Áudio do LP
Produzido em 1965 pelo salgueirense Haroldo Costa, o LP “Escola de Samba Portela” traz sambas de enredo e sambas de quadra dos principais compositores da escola na época: Jorge Meira, Antônio Alves, Ari Guarda, Ventura, Monarco, Chatim, Casquinha, Carlos Elias, Jair Cavaquinho e Colombo.
Gravado pela Musidisc, a capa é ilustrada com Vilma e Benício em fundo vermelho fotografados pela revista “O Cruzeiro”, com layout de Joselito, profissional muito requisitado na época para esse tipo de trabalho. O pavilhão da escola, portado por Vilma, tem bordada a antiga águia levando o pandeiro. Na contra-capa, texto de Haroldo Costa conta parte da história da agremiação, com tradução para o inglês e o francês, indicando a comercialização para o público estrangeiro.
Este vinil, o quarto gravado com o nome da escola de samba de Osvaldo Cruz, mas o terceiro em formato longplay, se tornou uma raridade. Os poucos exemplares que restam estão sob a guarda de seleto grupo de colecionadores. A foto da capa nos foi cedida por um deles, Alexandre Medeiros. Já a foto da contra-capa é de outro colecionador, o presidente da Portela, Luis Carlos Magalhães.
Infelizmente, na contra-capa do LP, não há referência sobre os músicos que participaram das gravações.
LADO A
“Ensaio de Ritmo Nº 1″ abre este vinil e traz a bateria da Escola tocando para um trabalho fonográfico com as características do desfile na avenida, dando destaque para os tamborins, os reco-recos e a cuíca, que sola o final da faixa.
“Sou feliz” de Jorge Meira e Antônio Alves é a faixa 2 e canta a felicidade de um sambista por ter encontrado o grande amor. Os dois sambistas ficaram pouco conhecidos na constelação de compositores portelenses. Com côro de pastoras, o samba apresenta o som de chocalhos-gizos que, para os menos atentos, se assemelham aos chocalhos de platinelas. Os chocalhos em forma de gizos marcaram presença na Bateria da Portela nas décadas de 60 e 70.
Em seguida vem “Rio Quatrocentão”, samba-enredo de Ari Guarda feito para o desfile de 1965. No entanto, a escola preferiu levar para a avenida o samba da dupla Candeia e Waldir 59. Partideiro e dono de uma bela voz, Ari Guarda gravou três LPs com faixas do gênero.
Membro da Velha Guarda e autor quatro sambas-enredo da escola (1932, 1945, 1946 e 1947), Ventura é o autor da faixa 4 do LP. “A felicidade vem depois” aborda o sonho de um sambista com a amada. Aqui já é possível conferir as vozes de Iara, Surica e Monarco e o que viria a ser, anos depois, a Velha Guarda Show da Portela.
“Verdadeiro Amor” de Chatim (Tompson Ramos) e Sebastião Costa diz que o sofrimento faz parte do amor, quando a gente ama. Este é o tema da faixa 5, samba com côro de pastoras, forte marcação de surdos, solo de cuíca e guizo.
Na faixa 6 aparece “Não dou perdão” de Casquinha, baluarte portelenses que dispensa apresentações. O samba segue o mesmo arranjo musical da faixa anterior e aborda tema preferido dos sambistas na época: a desilusão no amor. Por falta de espaço no disco, a faixa tem pouco mais de 1 minuto e meio de execução.
LADO B
Retorna a Tabajara do Samba, com a faixa 1 do Lado B, “Ensaio de Ritmo Nº 2”. Monarco chama a bateria para iniciar a batucada que é, praticamente, a continuação da faixa 1 do Lado A.
Em seguida, os ritmistas e pastoras gravam “Retumbante vitória” de Monarco, cantado por João da Gente, uma das principais vozes da Portela na década de 50, junto com Alcides Malandro Histórico, Alvaiade e Ventura. Incentivado por um amigo, Monarco cantou este samba pela primeira vez em 1952, no Bar do Nozinho para Natal. O patrono da Portela orientou Alvaiade (diretor de Harmonia) e Chico Santana a ensaiarem o samba com Monarco antes de apresentá-lo na quadra. A composição caiu no gosto das pastoras e serviu para “esquentá-las” antes da execução do samba-enredo daquele ano, “Brasil de Ontem”. Pela primeira vez Monarco viu um samba seu cantado oficialmente pela Escola. Confira a obra na faixa 2.
O partideiro Ari Guarda volta na faixa 3 com “Rala o côco”, samba de roda com improviso em dois versos, muito famoso no interior de Minas Gerais. No entanto, nesta gravação, Ari prefere manter o mesmo verso depois do refrão sem improvisar a resposta.
“O Segundo Matrimônio de D Pedro I”, mais conhecido como “O Segundo Casamento de D.Pedro I” é a terceira faixa desde LP. Composto por Antônio Alves, a obra foi o samba-enredo da Portela em 1964, quando a Escola conquistou mais um título. É considerado um dos mais belos sambas da Portela da década de 60. O samba é cantado por Surica.
Sambista pouco lembrado na atualidade, a faixa 4 traz “Solução” de Carlos Elias. O radialista estava apenas há quatro anos na Ala de Compositores da Portela quando este LP foi gravado. A interpretação é de Lindaura, pastora da Escola. Nesta gravação, os produtores preferiram calar os instrumentos na metade do samba, deixando apenas o surdo de marcação.
Encerrando o LP vem “Nosso ninho”, de Jair Costa e Colombo. O primeiro é Jair do Cavaquinho, baluarte portelense, tendo como parceiro neste samba o inigualável Colombo, vencedor de quatro sambas-enredo na Portela (1976, 1995, 1998 e 1999).
Em 1965, além da Portela, a Musidisc também gravou LPs da Magueira, Salgueiro e Mocidade Independente de Padre Miguel. Todos em comemoração aos 400 anos de fundação da Cidade do Rio de Janeiro e ao aniversário de 10 anos da gravadora, fundada em dezembro de 1954.
Pesquisa e texto: Marcello Sudoh
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