Tia Doca
“Ela era a essência do pagode em pessoa. Sua importância é enorme, porque foi uma das poucas a preservar a verdadeira tradição do samba dentro de um terreiro”.
(Dudu Nobre, cantor e compositor)
Jilçária Cruz Costa, conhecida como Tia Doca da Portela, nasceu em 20 de dezembro de 1932, trabalhou como tecelã e empregada doméstica. Um dos baluartes da Portela, Tia Doca fez de tudo na escola: puxou corda – antigamente as escolas eram limitadas por cordões, como os blocos baianos de hoje em dia –, foi da ala dos compositores, destaque, diretora da ala das baianas e integrante da diretoria. “Só não carreguei tijolo nem joguei bola com o Paulo da Portela. De resto, fiz de tudo para ajudar a minha escola”, dizia.
E olha que nem era para ela ter esse amor todo pela azul-e-branco. Sua família era da Serrinha. Tia Doca era prima de Dona Ivone Lara. Sua mãe, Dona Albertinha, foi a primeira porta-bandeira da Prazer da Serrinha e só parou de desfilar quando a escola acabou em 1947. Seguindo os passos da mãe, Doca já era, aos 14 anos, porta-bandeira da Unidos da Congonha, em Vaz Lobo. Seu mestre-sala era Benício, que mais tarde formaria par com Wilma Nascimento na Portela. “Eu nunca traí a minha escola. E olha que a Império Serrano foi fundada no meu quintal”, contava.
A vida não foi mole para Tia Doca. Mãe de onze filhos, sendo nove homens e duas mulheres, ela perdeu oito. Restaram apenas as duas moças e um rapaz.
A entrada de Doca na Portela foi em 1953, após seu casamento com o compositor Altair Costa, filho do compositor Alvarenga. Em 1970, entrou para a Velha Guarda por sugestão de Alberto Lonato e teve como examinadores Alvaiade e Armando Santos; vindo a substituir a lendária Tia Vicentina.
Era muito ligada a Clara Nunes, que promoveu diversas rodas de samba no quintal da sambista. Como compositora, Doca é autora do partido-alto “Temporal”, por ela gravado num disco ao lado de Monarco, e do samba “Orgulho Negro”, em parceria com o filho Jadilson Costa, gravado por Jovelina Pérola Negra.
Tia Doca ficou famosa por ser dona de uma das mais famosas rodas de samba da cidade. Há mais de 30 anos, a sambista abria o quintal de sua casa para promover o famoso Pagode da Tia Doca, que serviu de berço para diversos artistas, entre eles Zeca Pagodinho. Em 2008, ela foi um dos destaques do filme “O mistério do samba”, produzido pela cantora Marisa Monte.
No dia 17 de janeiro de 2009, minutos antes de a Portela iniciar seu segundo ensaio na Marquês de Sapucaí, a notícia de que Tia Doca teria morrido se espalhou como rastro de pólvora. Um mal-entendido que só foi desfeito algumas horas depois, na madrugada do dia 18. Um susto! Ela, de fato, se internara após um acidente vascular cerebral no Hospital Carlos Chagas. Um aviso, talvez. Uma semana depois, no dia 25 de janeiro, vítima de um infarto, morria Tia Doca da Portela.
“Uma das matriarcas do samba… uma celebridade de verdade, simples e humilde”. Essas palavras da mangueirense Leci Brandão dão o tom do legado de Tia Doca para a Portela e para o samba. Uma mulher realizadora, bem-sucedida, que portou, desde sempre, a bandeira de resistência do samba.
Fontes:
A Velha Guarda da Portela, Carlos Monte.
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