Mestre Catanha
Mestre Catanha
2003
No dia 30 de julho de 2003, conversei informalmente com Mestre Catanha (pai) enquanto aguardava a chegada do filho, Catanha, para uma entrevista ao site PortelaWEB. Esta, sem dúvida, foi a última vez que o mestre pode contar sobre sua passagem pela GRES Portela. Foram 42 carnavais.
Mestre Catanha estava fazendo tratamento contra câncer na próstata. Como o tom de sua voz estava fraco, evitei estender muito o assunto para não cansar o Mestre.
PortelaWEB: Mestre Catanha, tudo bem?
Mestre Catanha: Ih rapaz, eu estou com uma ferida… um tumor na bexiga… é uma coisa braba.
PortelaWEB: Mas o senhor está novo ainda…
Mestre Catanha: Que nada rapaz, tô com 78.
PortelaWEB: Então, está novo ainda. Tem muitos carnavais ainda pela frente.
Mestre Catanha: É. Tá todo mundo falando “vc vai ficar bom, vai com teu filho para avenida”. Mas, se Deus quiser, eu vou ficar bom.
PortelaWEB: Nós estamos aqui torcendo para isso acontecer.
Mestre Catanha: Olha minha esposa quer falar com vc…
A esposa de Mestre Catanha, pessoa muito atenciosa e gentil, se desculpa pelo atraso do filho e diz que ele já está voltando. Eu digo que não tem importância e peço para falar mais um pouco com o Mestre, apesar do seu estado de saúde.
PortelaWEB: Mestre, quanto tempo o senhor está na Portela?
Mestre Catanha: Estou há 42 anos. Eu sou do tempo do Natal. E só com Carlinhos Maracanã tenho 33 anos. Carlinhos Maracanã foi pra Portela em 11 de abril de 1972. Eu já estava. Já estava com o Natal.
PortelaWEB: Então o senhor entrou em 1960?
Mestre Catanha: É isso.
PortelaWEB: Quando o senhor entrou foi direto para a bateria?
Mestre Catanha: Fui direto para a bateria, porque a minha especialidade, desde garoto… eu tocava bem tamborim. Aí chegou lá e eles me viram tocando… e outra coisa, eu jogava muito futebol. Aí tinha uma “decisão” contra o time da Portela e o Natal estava lá presente. Eu era o “artista” principal do espetáculo.
Acabei com o time da Portela. Dei o campeonato para o outro time. Foi aí que o Natal disse “não, você vai…” (interrompe a entrevista). Olha, o Carlinhos (filho que tinha acabado de chegar para a entrevista) chegou aqui agora, já vai falar contigo. Mas aí né, eu ingressei na Portela por esse intermédio. Mas foi também pelo samba e pelo futebol que eu tinha. Daí passei a jogar pela Portela depois.
PortelaWEB: Qdo o senhor entrou na bateria quem era o mestre?
Mestre Catanha: Era o Betinho. Tinha o Mestre Cinco, o Mestre Quincas.
PortelaWEB: Mas qdo o senhor entrou era o Betinho?
Mestre Catanha: Não, não. Era o Quincas.
PortelaWEB: Era a primeira vez que ele estava como mestre ou ele entrou em 1959?
Mestre Catanha: Não já estava.
PortelaWEB: E isso foi em 1960, o senhor tem certeza?
Mestre Catanha: Isso mesmo. Tenho certeza.
PortelaWEB: E o Oscar Bigode foi antes ou depois?
Mestre Catanha: Ah, eu trabalhei com ele também. Eu só não me lembro o ano, mas ele foi meu diretor também. Ele até gostou de trabalhar comigo. Ele dizia que eu era um bom ritmista e um cara disciplinado.
PortelaWEB: E o Chimbute, que era o segundo diretor do Betinho?
Mestre Catanha: Ah, ouvi falar.
PortelaWEB: Mas o senhor não chegou a trabalhar com ele.
Mestre Catanha: Não, não. Ele já tinha saído.
PortelaWEB: E o Oscar Bigode o senhor não lembra se foi antes o depois do Quincas?
Mestre Catanha: O Oscar Bigode? Ah, foi depois do Quincas. Foi depois. Depois eu até trabalhei na Apoteose com o Oscar Bigode também. Ele tinha uma banda lá e me levou para trabalhar com ele… olha o Carlinhos já tá aqui pronto para a entrevista. Você quer falar com ele?
PortelaWEB: Quero…
Mestre Catanha: Então tá, um abração!
PortelaWEB: Obrigado Mestre, melhoras…
Dias depois, para nossa tristeza, Mestre Catanha faleceu levando consigo um grande e irrecuperável saber rítmico e boa parte da história da bateria da Portela.
Entrevista: Marcello Sudoh em 30/7/2003. Atualmente já sabemos quais foram os mestre de bateria da Portela e em quais anos atuaram, desde 1932.